01 julho 2003

ECO-TERROR
A polémica: Luís Nazaré, ex-presidente da Anacom, considera que cumpriu já "um período de afastamento, auto-imposto, de um ano" e, por isso, afirmou ao PÚBLICO não ter problemas éticos em assumir um cargo no conselho consultivo da Portugal Telecom (PT), a empresa que durante quatro anos esteve sob o seu crivo de presidente da entidade reguladora das telecomunicações. [...]
Luís Nazaré, que é também secretário-nacional do PS, referiu-se ainda à polémica criada quando em meados dos anos 90 o ex-comissário europeu Martin Bangelmann abandonou a Comissão e, de imediato, aceitou ser consultor da Telefónica espanhola. "Há uma diferença. No meu caso passou-se um ano", frisou.
[O que não se diz é que o caso Bangemann foi analisado pelo Tribunal de Justiça europeu, dado que os membros da Comissão "prennent, lors de leur installation, l´engagement solennel de respecter, pendant la durée de leur fonction et après la cessation de celles-ci, les obligations découlant de leur charge, notamment le devoir d´honnêteté et de délicatesse quand à l´acceptation, après cette cessation, de certaines fonctions ou de certains avantages".
Também em termos de "délicatesse", "Martin Bangemann n'a d'ailleurs jamais pris ses fonctions chez Telefonica même si le contrat n'a pas été rompu."
Aliás, havia outros exemplos além de Bangemann, como se explicava em Março de 2000: "L'ex-équipe Santer, entre groupes privés et retour en politique": quatre ex-commissaires -outre M. Bangemann- ont été embauchés par des multinationales.]
Mas o que dirá e fará no futuro Nazaré sobre as suas anteriores declarações:
- "o grupo [PT] está "nas mãos de 'marketeers' e de analistas financeiros", não se sabendo se a tomada de decisões na PT obedece à necessidade de inovar e de desenvolver novos produtos ou "a interesses não visíveis de um conjunto de 'yuppies' e de gente formada nos Estados Unidos", o que "não agrada" a Luís Nazaré, para quem gestores com esse perfil "não vão olhar para as necessidades do mercado". (Público, 08.Nov.2002)
- Se a PT comprar a rede fixa de telecomunicações que actualmente é pertença do Governo [o que já sucedeu], então o executivo deve obrigar a PT a vender a TV Cabo a outro operador, afirma Luiz Nazaré, ex-presidente da Anacom, em declarações ao EXPRESSO.
«Ninguém compreenderia que o actual cenário concorrencial ficasse ferido de morte, como consequência de a PT passar a deter as duas principais redes fixas nacionais - o cobre e o cabo», afirma Nazaré. (28.Set.02).