10 novembro 2003

VITAMEDIAS

O Jóias da Coroa fala do "trânsito entre a assessoria política e o jornalismo", lembrando um texto de Hélder Bastos onde se diz:
"Imagine-se um bombeiro a seguir o exemplo. Por que não ir uns tempos atear fogos? Ficaria a conhecer melhor as técnicas do incendiário. Depois, poderia regressar, com outro saber, ao combate às chamas."
O referido texto prossegue assim:
"O mais perturbante nesta história é que ninguém parece importar-se com a anarquia instalada. Opta-se, quase sempre, pelo silêncio cúmplice ou pela má-língua de taberna.
Preocupante é não apenas saber que deontologia é letra morta para muita gente que faz das redacções portas-giratórias, mas também verificar que o jornalismo não sabe responder, na prática, a estas situações.
Lembrar que existem códigos deontológicos, e que estes consideram incompatível o exercício do jornalismo com o de assessorias passou a ser encarado como uma atitude intrusa, moralista e passadista.
Os tempos mudaram. Definitivamente, o que está a dar é ser, ao mesmo tempo, jornalista, assessor do sr. ministro, fazer gala disso e passear de telemóvel."
Como se não bastasse, lembro partes de um outro texto deste jornalista do DN:
"O autor de um conhecido texto de comunicação põe o problema da seguinte maneira: um indivíduo torna-se jornalista quando declara que é jornalista. E permanece com o título enquanto continuar a dizer que o tem. É difícil pensar em outra ocupação de importância semelhante para a sociedade que exerça tão pouco controlo sobre si própria. Não há exigências para o acesso à profissão, não há um código de ética explícito, não há um sistema para repelir os incompetentes e os patifes.
Posto isto, como são controlados os jornalistas na sua prática diária?
Através de que mecanismos são mantidos leais aos seus editores, directores e administradores?
Alguns analistas da Imprensa falam nos chamados «controlos informais». Estes são bem mais subtis do que os esquecidos códigos éticos ou as fracas exigências de acesso."
P.S.: Aliás, sobre os códigos, ouvi esta tarde José António Saraiva falar no lançamento do seu livro "Confissões de um director de um jornal" (Expresso) e afiançar que algumas das conversas que transcreve foram feitas em "off the record" mas que teve algum cuidado em não revelar "intimidades" (basta ler o que diz sobre Dias Loureiro para perceber o cuidado que teve :-)).
No entanto, é o próprio Código de Conduta do Expresso que afirma: "Os jornalistas têm a obrigação ética e deontológica de proteger a relação de confidencialidade com as suas fontes de informação". Claro que o próprio editorial do Expresso no dia da divulgação desse Código referia que "Nenhuma lei é cumprida a cem por cento"...
Ainda sobre este livro, porque critério - ou "importância efectiva" - se baseou o Expresso para inserir o seu lançamento como notícia de primeira página na edição 1618 quando o próprio Estatuto Editorial do semanário afirma que "Sabemos, por exemplo, que a selecção do material a publicar, a sua colocação nas diversas páginas, a colunagem dos respectivos títulos, devem obedecer a critérios de inserção baseados na importância efectiva de cada peça e não nas convicções ideológicas de quem as escreve, escolhe ou pagina."