23 junho 2004

.DE!

O João Oliveira escreve num comentário a um texto de JVM do Público ("Bandeiras") citado mais abaixo onde se "mistura o patriotismo, o nacionalismo, a xenofobia, etc, tudo de uma só vez.
Nao interessa que seja por motivos comerciais, interesse pela selecção ou outra coisa. O portugues participa de movimentos colectivos onde seja facil de entrar e sem custos humanos (lembram-se do "branco por timor". Serve para limpar a alma...
Agora não juntem tudo no mesmo saco...
"
João, não se deve juntar no mesmo saco estas curiosidades:
- Não achas curioso as bandeiras nacionais aparecerem no mesmo fim-de-semana em que se ia votar para as europeias?...
- Não achas curioso as bandeiras nacionais aparecerem relacionadas com o futebol mas pedidas por um comentador político?
- Não achas curioso tu próprio falares de não misturar as coisas e dares o exemplo dos "movimentos colectivos onde seja facil de entrar e sem custos humanos" como o "branco por timor"?
- Não achas curioso um país a querer limpar a alma? Limpá-la de quê?
- Não achas curioso que não tenhas "desmontado" o texto do JVM?
- Não achas curioso e não és capaz de concordar com este parágrafo de que "A bandeira apela à mobilização, à vitória e à fé, mas não apela a nada daquilo que nos últimos anos se tentou convencer os portugueses que devia ser a nossa aposta: a criatividade, a inteligência e a excelência, a educação e a formação, a qualidade e a beleza, o progresso e o bem-estar. Nem sequer à solidariedade, pois o fervor patriótico tem uma afinidade especial pela superioridade nacionalista, pela xenofobia e pelo racismo. A bandeira só define uma solidariedade depois de definir cuidadosamente a fronteira onde ela se esgota e se transforma em ódio. A bandeira não apela ao neocórtex mas ao cérebro primitivo, não apela à arte e à ciência mas à força e ao medo"?
- Não achas curiosa e verdadeira esta frase: "É apenas triste que esta energia e esta mobilização não tenham tradução em nada de realmente importante, algo de que realmente nos pudéssemos orgulhar. É triste que aquilo em que acreditamos seja apenas isto em que podemos acreditar sem custo, seja esta mobilização que em nada nos compromete e nada nos exige senão beber cerveja e buzinar nas ruas"?
- Não achas curioso o "El Mundo" fazer um trabalho daqueles sobre os golos do Euro 2004 e não teres ninguém em Portugal que o faça?
- Não achas curioso que se fale de missão cumprida em jogos intermédios quando o que se procura num campeonato é ser capaz de ganhar a final, qualquer final, seja ela económica ou futebolística, sem desculpas como afirmar "missão cumprida" nuns oitavos-de-final? A missão está cumprida no fim, não no início!
- Não achas curioso Durão Barroso dar saltos com a vitória de Portugal numa bancada de futebol - de que não é responsável - e não o fazer para saltos qualitativos na economia ou na ciência ou na educação, onde é o responsável máximo?
- Nada disto é curioso? Porque será?
[act.: como é óbvio, e apesar de gostar de futebol, estou mais do lado deste "Portugal embandeirado": A sociedade civil está, agora, a resolver parte do problema: construir uma nova atitude que passa pelo abandono do distanciamento e da reverência solene e pela proximidade, a apropriação individual e a interiorização dos símbolos. A bandeira é de Portugal, mas, também, de cada um dos portugueses que a sentem como sua.
Era bom que a nova atitude perdurasse para além do futebol. E que Estado democrático encarasse o resto do problema.]