29 outubro 2004

VITAMEDIAS

É normal um ministro revelar que um gestor de um grupo de media com quem o seu Governo está em apuros é "um homem livre"?
É normal o accionista maioritário de uma televisão usar a mesma para afirmar a sua confiança no director de informação?
É normal o director de informação da TVI gastar quase 20 minutos de "prime time" para clarificar que não se demite, que a independência e isenção da estação de TV nunca esteve em causa mas vai assinar um documento necessário ao bom entendimento entre o accionista maioritário (e os outros?) e a direcção de informação originado a partir de um acordo entre cavalheiros?
É normal um director de um dos jornais de referência saber que vai ser demitido, divulgar numa tarde que se vai embora, à noite que tem a confiança do accionista e se mantém no cargo e, no dia seguinte, demitir-se mesmo?
É normal uma jornalista declinar um convite para dirigir um jornal e emitir um comunicado onde critica a falta de "condições necessárias" para o fazer e ainda tem de escarrapachar que "não sou, nunca fui e nunca serei uma comissária política" quando "nunca foi isso que esteve em causa, nem foi para isso que fui convidada"?
É normal o director de informação da SIC afirmar que "Políticos, empresários, sindicalistas, venha o primeiro dizer que nunca tentou meter o bedelho onde não é chamado, que nunca telefonou ao chefe ou ao director, que nunca escondeu, que nunca calou, que nunca tentou calar.
Cada um à sua maneira, tenta impôr a verdade que mais lhe convém"?
É normal o director-adjunto do semanário de referência falar em "factos" perante declarações públicas de duas pessoas sobre temas tido em privado e para declarar que um "sai muito por baixo deste exercício de condicionamento, de limitação da liberdade de expressão e de mentiras públicas" e o outro "teve a integridade e a coragem, apesar dos constrangimentos pessoais e familiares envolvidos neste caso, de não se deixar condicionar, de se afirmar como um espírito livre e abdicar de uma tribuna privilegiada com uma audiência invejável, de não pactuar com intromissões ilegítimas e com a mentira"?
É normal um jornalista e ex-director do DN "combinar equilíbrio e bom senso - incluindo alguns compromissos em questões acessórias - com a intransigência nos princípios fundamentais" que hoje o provisório director do DN re-afirma?
É normal dizer que a "ambição tentacular do Governo de controlo dos "media" ficou exposta pelo dito, mas sobretudo pelo ainda não dito de Marcelo"?
É normal o Sindicato dos Jornalistas revelar que a "evolução do processo que a Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) está a levar a cabo sobre o ?caso Marcelo? confirma e adensa as suspeitas que ?comprometem a imagem de independência dos órgãos de informação junto da opinião pública?", quando esse processo não está terminado e a própria AACS não se pronunciou sobre o mesmo
É normal, segundo um estudo revelado pela Lusa, que 75 por cento dos 91 jornalistas questionados "consideram urgente criação de novo órgão regulador" para a comunicação social?
É normal o país gastar "dois milhões de euros para o funcionamento da denominada 'central de comunicação'", cujos "únicos objectivos... serão o tratamento da informação que entra e a comunicação das decisões do Governo e não qualquer conspiração"?
Tudo isto é normal? Em Portugal, é.