O Atrium retoma argumentos, com a habitual pertinência, sobre o pagamento pelo Público.pt. Volto ao assunto, citando Luís Santos e respondendo:
- "O marginal sucesso financeiro imediato não equilibra, de forma nenhuma, a perda de influência na net. "
Não se sabe ainda se vai ou não existir sucesso financeiro. Também não se sabe qual vai ser a perda de influência na Net. Uma e outra estão ligadas? Não? Porque dei o exemplo do Expresso?
- "E é SÓ na net que o jornalismo pode encontrar um espaço de crescimento."
O Público Online existe há 10 anos gratuito, com custos inerentes. Porque teve agora de tomar esta decisão? Porque não houve investimento publicitário? Porque razão o Paulo Querido - onde o Atrium e muitos outros blogues, está albergado - teve de escolher opções pagas?
Duvido, com a devida consideração, de que o jornalismo apenas pode crescer na Net. Não são certezas, apenas dúvidas, para mais quando o próprio Dan Gillmor voltou a colaborar com jornais em papel e de acesso restrito na Net (o seu site não explica nada sobre este assunto).
Em relação às minhas dúvidas, diz:
1 - "O Público só não é distribuido gratuitamente nas ruas porque existe um preconceito histórico relativamente a publicações que adoptem essa estratégia".
Onde está esse "preconceito histórico" quando os jornais gratuitos foram o "fenómeno" de 2004, segundo os dados da APCT? Cito, do Diário de Notícias: "o grande fenómeno surgiu na imprensa gratuita, que, de um ano para o outro, registou crescimentos significativos. O diário Destak e o semanário Jornal da Região foram os que mais cresceram, 33%, enquanto o semanário Dica da Semana aumentou a circulação em 12%, atingindo mais de dois milhões de exemplares oferecidos. [...] Dos sete diários de informação geral, só três registaram subidas."
Não devíamos antes analisar a queda destes diários, tanto mais que os ditos de referência (DN ou Público, por exemplo) perderam novamente leitores?
"Todos sabemos que nenhum jornal português vive do preço de capa e que em quase nada ele determina a sua gestão";
Não é essa uma razão para optar pelo pagamento da versão "online"?
2 - "A influência do jornal na blogosfera é algo de novo, que o Público escolheu agora rejeitar. Outros escolhem caminhos bem distintos e começam a capitalizar;"
Como é que se define influência? Repito, por ser de acesso pago não pode ter influência?
Quanto aos "outros" que capitalizam por estarem gratuitos "online", acho que o exemplo norte-americano é distanciado do nosso. Mesmo assim, e seguindo essa linha de adopção, remeto para um artigo recente (29 de Março) da Reuters:
"More U.S. publishers likely will try to wean readers off free Internet versions of their newspapers by starting to charge online subscription fees, a Dow Jones & Co. Inc. executive said on Tuesday.
Charging for news that appears in print -- and then giving it away over the Web -- is "an unsustainable business model," said Gordon Crovitz, president of electronic publishing at Dow Jones. The company's Wall Street Journal is the only national U.S. newspaper to restrict access to virtually its entire Web edition to paid subscribers.
"It would be good for the industry" for more publishers to follow suit, Crovitz said in an interview after a company presentation at the Banc of America Securities media conference in New York on Tuesday.
"Publishers in all mediums have tended to devalue their brands," he said. "I am very confident that other publishers will find ways to generate online subscription revenues."
Converting free newspaper Web sites to a paid subscription business is a big issue in the publishing industry.
Paid Internet sites can help publishers bring in new subscription revenue from readers who want access to the online content, but free sites are attractive to advertisers because they attract many more readers.
Internet advertising is growing much faster than traditional print advertising, although it still represents only a small amount of overall ad revenue.
New York Times Co. has been reviewing whether to charge for its Web edition, but it has not made any announcement about its plans. The New York Times already charges fees for access to parts of its Web site, such as its daily crossword puzzle and news archives."
3 - "O Expresso tem uma existência residual enquanto orgão de comunicação citado na net portuguesa. A sua página online é diariamente lida, é certo, mas ninguém estabelece um link para um texto de acesso restrito. O seu poder de permanência - no sentido que lhe dá Simon Waldman - é quase nulo. Pode até aceitar-se que, no imediato, não perde grande coisa. Mas é absolutamente certo que esta decisão traz ritmo acrescido à sua paulatina perda de influência como 'espaço onde encontramos informação'."
Mas quantos de nós deixámos de ler o Expresso em papel só porque a sua edição "online" passou a ser paga? Ou, pelo contrário, quantos de nós passámos a comprar o Expresso quando foi vedado o acesso pela Internet? E não deixa de ser citado na Net, pois não, nem de ter influência?
Posso concordar que o Público vai deixar de ser citado pela Marktest como o jornal mais lido na Net. Vai sofrer uma quebra imediata nos acessos "online", como sucedeu no Expresso (75 por cento), com óbvias implicações para a publicidade.
Mas há algo que eu acredito que os responsáveis do Público sabem, desde Janeiro de 2004 e segundo algo que o próprio jornal revelou: "Os cibernautas portugueses estão a recorrer mais aos "sites" e portais de informação na Internet para se manterem a par das notícias diárias, em detrimento da consulta dos jornais. Mas a esmagadora maioria (71 por cento) declara que não está disposta a pagar pelos conteúdos actualmente oferecidos.
Um estudo da Netsonda indica que quase metade (49 por cento) dos utilizadores de Internet que "navegam" nos "sites" noticiosos "lê imprensa em papel com menos frequência do que lia anteriormente".
O que vai ganhar? Não se sabe. Poderia ter optado por alternativas menos radicais? Talvez. A minha opinião é que seria possível fazê-lo de outras formas, talvez mais graduais. Mas percebo perfeitamente a decisão tomada e tendo em atenção a nova tendência de que o "Personal Entertainment Is Replacing Mass Media".
P.S.: Obrigado pela ligação para o texto de Tim Porter. Concordo com todos os tópicos e saliento como uma "American Society of Newspaper Editors" apenas dedica uma hora para o debate sobre o futuro dos jornais. Ou não há muito a debater ou é tudo feito "off the record" :))) Já agora, ele tem outro texto com interesse: "The Abandoned Newspaper".
[act. a 7 Abril: Publico.pt: uma análise que nem precisa ser muito cuidada ou sequer atenta, mostra que quem ganhou com esta nova política do Público foram os restantes jornais online: nunca antes tinham sido tão citados na blogosfera nacional [como é que AJS chegou a esta conclusão?]
Expresso online sem pedalada: Mais de 24 horas depois do falecimento do papa, a "manchete" do Expresso online é: "João Paulo II: estado de saúde piora".
Não há ciberjornalismo que resista a tanto amadorismo.]