08 abril 2005

VITAMEDIAS

Ainda sobre o Público em contra-mão:
Caro Luís, não tenho informação privilegiada para poder responder se o Público continua (ou não) "a afastar-se, cada vez mais, das marcas que o diferenciaram (pela positiva) quando apareceu". Não faço futurologia.
Discordo dos actuais "tempos de acesso livre" porque, como refere, a "produção micro-disseminada" leva obviamente ao pagamento dos produtos micro-disseminados (veja-se o caso dos SMS, toques e rings).
Acho que a "construção de credibilidade e de "branding"" do Público está feita (não percebi - falha minha, clara - o que é a "base em parâmetros muito fluídos"). Acho que não deve ser desperdiçada e isso passa por projectos futuros credíveis. Mais uma vez, continuamos no campo do futuro, que desconheço.
Ao fim de 10 anos, a publicidade não falhou - ela não existiu em termos consistentes por aquilo que se viu, quer no Público quer em qualquer outra entidade "online". A culpa, quanto a mim, não é apenas de quem apostou nesse modelo (copiado, como diz e eu concordo, sem inovação e com todas as fragilidades pensadas para outros formatos, apostando em algo em que se sentiam confortáveis) mas de um mercado que continuou a apostar mal e de forma inexpressiva nos projectos "online" de media. Veja quantos e com alguma qualidade terminaram! Veja os que se mantiveram e o que lhes sucedeu se não tivessem apoios ligados ao Estado ou ISPs interessados no número de acessos.
Ao fim de 10 anos a suportar um projecto, se fosse eu o gestor daquilo, faria o mesmo. 10 anos! Estava a Web a dar os primeiros passos e o Público já tinha uma edição "online". 10 anos! Qual é "o caminho necessário a fazer"? Já o percorreu, quanto a mim, entre o crescimento e o "rebentar da bolha" tecnológica e económica.
O Luís refere que o momento é de "crescimento". Ainda bem, é então mais uma razão para finalmente cobrar por conteúdos. Haverá uma maior disponibilidade financeira para os pagar. Porque razão hão-de os conteúdos ser gratuitos? Como já citei, isso é uma ideologia mas deixou de ser realidade, excepto pela obtenção de pagamentos paralelos (ISPs e tráfego). Infelizmente, porque nunca se teve acesso a tanto conhecimento e informação e dados. E foi bom e vai ser mau, sem dúvida.
Mas porque não se ouve o Luís - ou outros, claro - a argumentar o mesmo sobre uma Science, sobre uma Nature, sobre revistas científicas com maior influência que um Público e que deveriam e se calhar poderiam estar disponíveis gratuitamente para o nosso país, para todos nós? Porque há-de a Sonaecom pagar pela influência do Público na sociedade? Acredita que o DN ou o JN vão continuar gratuitos "online" se a Olivedesportos ficar com eles? É que a rede de distribuição "online" era da PT. Não estamos a falar de influência mas de tendência.
Por isso só posso concordar quando diz "que valerá mais a pena pensar em 'modelos de negócio' alternativos do que tentar moldar a net a ideias que serviram noutros espaços". Sem dúvida. Mas também acredito que, no entretanto, se escolham apostas seguras.
Por isso discordo da visão simplicista sobre os editores e dos rapazes novos - ela existe, não duvido, então por cá... -, mas é paralela a uma outra e radica na questão da tal influência e da concorrência dos media: ninguém quer fechar os seus conteúdos quando sabe que vai perder leitores e a publicidade se pode transferir para a concorrência. Excepto quando se tem um bem único e se investe nele, como o Wall Street Journal fez. Pode-se ler o Finantial Times ou ver o Bloomberg mas o WSJ é único. Foi precipitado? Não está a obter lucro com isso? Não disponibiliza conteúdos de qualidade? O que perdeu ele? Citações na Web? O que ganhou? 700 mil leitores online a 79 dólares anuais (ou 39 se assinam a edição em papel)...
Não percebo como é que pagando pelos conteúdos não se transforma o jornalismo em algo melhor. O meu merceeiro deve dar-me laranjas só para que eu o referencie e ele seja conhecido no bairro? Sim, ele ganha com isso. Mas quando o fizer com todos os clientes, o que ganha ele?
O mercado em Portugal é reduzido, nomeadamente na aquisição de medias e principalmente no papel. Porque não se questiona o pagamento da "gratuita" rádio através do pagamento da electricidade? Porque não se debate o pagamento às TVs por cabo dos canais noticiosos, nacionais ou não? Porque hei-de pagar para ter acesso ao canal da Assembleia da República, orgão cujo funcionamento eu já ajudo a pagar? Porque há-de ser o Diário da República e as suas leis, que todos temos de conhecer, pago? Há aqui algo que não entendo: conteúdos privados gratuitos e os públicos pagos? Não há contradição?
Luís, tem um modelo de negócio para as "empresas cuja actividade é a produção de conteúdos informativos, dispersos por vários suportes, de forma possivelmente diferenciada, não simultânea, interactiva e em estreito relacionamento com os indivíduos que constituem a sua comunidade de influência"? Se sim e sem ser as que estão ligadas aos media tradicionais em Portugal, gostaria de trabalhar para elas. Sabe o meu email, contacte-me por favor.
Sobre o Expresso, não me alongo mais mas não percebo essa lógica de influências diferentes para o papel ou o "online". Se vamos por aí, e a televisão? E a rádio?...
Quanto às notas finais, uma dúvida sobre a segunda: o Público fechar a edição diária e abrir o arquivo? Já reparou que se quiser aceder a uma edição do DN em papel de 1900s, ele é pago? Claro! O arquivo é dos mais importantes bens de um jornal. Não é rentabilizado? Essa é outra questão...
Sobre a terceira nota, não tenho as certezas que me atribui. Tenho algumas dúvidas sobre se as gerações mais novas não vão optar pelas edições electrónicas mas não consigo acreditar que o papel vá desaparecer (problema da idade :))); quando referi o "entretenimento pessoal" ("entertainment" num sentido muito lato) era também de usufruto dos medias noticiosos, de forma pessoal (um bocado aquela ideia do MyNewspaper, quando, como e onde o quero).
Ah, e também eu discordo da opção "lucrar enquanto podemos". Não "é inevitável", excepto para as empresas que querem estar pouco tempo no mercado e isso nos media paga-se caro. Lembra-se do "Século"?