A questão coloca-se com a nova tendência para a disposição dos espaços das redacções jornalísticas, orientadas a partir de um centro de gestão para as pontas onde funcionam os jornalistas e não só.
Este tipo de organização espacial não é pacífico porque permite uma vigilância panóptica, termo cunhado no século XVIII por Jeremy Bentham.

Nem pensar, defendem os criadores das novas redacções multimédia, como Juan Antonio Giner, vice-presidente da consultora de media Innovation. “Isto é o que os jornais devem fazer se não querem tornar-se em organizações burocráticas”, responde-nos por email.

Esta concepção espacial tem enormes semelhanças com o modelo de vigilância proposto por Bentham. O “panopticon” era a base para a vigilância em vários locais, de prisões a hospícios ou escolas. Basicamente, colocava os vigilantes no centro dos espaços a controlar, garantindo um olhar para a totalidade da “Inspection House”.



A “redacção integrada” com centro nevrálgico em forma circular foi bastante reconhecida em 2006 pela aplicação no inglês Daily Telegraph.

“Uma redacção não é uma prisão”, escrevia também Bertrand Pecquerie, director do World Editor’s Forum. Ele alertava para o perigo das mudanças realizadas pelos consultores editoriais, nomeadamente para “as tendências autoritárias na gestão das redacções poderem prevalecer sobre as necessidades actuais de maior liberdade de expressão e maior interacção com os leitores”. E salientava que “um design errado de uma redacção pode gerar um jornalismo de má qualidade”. O exemplo de Bentham era então salientado porque “em vez do redesenho das redacções, revela que a ‘modernidade’ muitas vezes significa um ‘regresso ao velho modelo autoritário’”.

Antonio Giner não acredita que este tipo de espaço promova a vigilância dos jornalistas. “Redacções em ‘open space’, uma zona central de planeamento, uma configuração flexível das posições das secretárias e os editores fora dos seus espaços fechados promovem criatividade, interacção, trabalho de equipa e um melhor jornalismo”, explica.
A Innovation “concebeu e implementou novos espaços físicos para mais de 30 redacções em todo o mundo e a nossa experiência é 100% positiva”, tanto mais que nenhuma “aceita regressar ao anterior sistema”.