25 janeiro 2014

O que José Manuel Fernandes diz que Maria Mota disse e o que esta disse realmente

Diz José Manuel Fernandes (JMF) em "Aquilo que não tem sido dito no debate sobre a 'Ciência em crise'": De facto, como disse a investigadora Maria Mota [MM], recentemente distinguida com o Prémio Pessoa, “caímos no risco de achar que, como crescemos imenso, já estamos no topo e não estamos. Já temos muitos indivíduos que estão ao nível dos melhores, mas sobretudo ao nível promissor”. Ao comparar-nos com países como a Alemanha ou a Suíça, esta cientista constata que “lá já não há coisas medíocres”, ao contrário do que ainda sucede em Portugal. Por isso Maria Mota a defendeu, numa entrevista que deu em Setembro do ano passado, que era “preciso podar, e estaria talvez na altura de o fazer”.  


Defendeu? Na entrevista à LuxWoman, eis o que sucede:

JMF: “caímos no risco de achar que, como crescemos imenso, já estamos no topo e não estamos. Já temos muitos indivíduos que estão ao nível dos melhores, mas sobretudo ao nível promissor” 

MM: "Caímos no risco de achar que como crescemos imenso já estamos no topo e não estamos. Já temos muitos indivíduos em Portugal que estão ao nível dos melhores, mas sobretudo ao nível promissor. Essas pessoas têm de ser muito protegidas, têm que ter as condições para desenvolver trabalho. O sucesso em ciência é muito difícil de manter e depende de muitas características: inteligente, sim, mas é preciso ser pragmático e um bocadinho egocêntrico, saber qual é o seu caminho, tem de haver uma certa imposição do eu. E depois tem de haver condições. Há muitas pessoas a fazer boa ciência porque as instituições em que estão as dotam de todas as condições"

JMF: Ao comparar-nos com países como a Alemanha ou a Suíça, esta cientista constata que “lá já não há coisas medíocres”, ao contrário do que ainda sucede em Portugal. 
MM: Também acho que, como em qualquer conceito, de vez em quando é preciso podar uma árvore, porque ainda temos ciência medíocre em Portugal. Eu avalio para a Suíça, para a Alemanha, etc, e há lá ciência muito mais aborrecida do que a nossa, mas o nível médio é muito melhor lá. Lá já não há coisas medíocres.

JMF: Por isso Maria Mota a defendeu, numa entrevista que deu em Setembro do ano passado, que era “preciso podar, e estaria talvez na altura de o fazer”. 
MM: É preciso podar, e estaria talvez na altura de o fazer, mas não podemos podar pelo caule porque pode já não crescer.  

As citações são retiradas destas três perguntas e respostas a MM:
- Como é trabalhar em ciência em Portugal? 
Quando cheguei a Portugal, cheguei na transição, o Instituto Gulbenkian para a Ciência estava a atrair pessoas para cá, devemos isto a várias pessoas, mas sobretudo ao ministro Mariano Gago, que enviou muitos investigadores para fora. Temos pessoas portuguesas nos melhores sítios do mundo, temos locais no país tão bons quanto esses, podemos fazer assim uma network para o desenvolvimento. É possível fazer ciência em Portugal ao mais alto nível. Nós fizemos maravilhosamente.

- Estamos entre os melhores países para fazer ciência? 
Caímos no risco de achar que como crescemos imenso já estamos no topo e não estamos. Já temos muitos indivíduos em Portugal que estão ao nível dos melhores, mas sobretudo ao nível promissor. Essas pessoas têm de ser muito protegidas, têm que ter as condições para desenvolver trabalho. O sucesso em ciência é muito difícil de manter e depende de muitas características: inteligente, sim, mas é preciso ser pragmático e um bocadinho egocêntrico, saber qual é o seu caminho, tem de haver uma certa imposição do eu. E depois tem de haver condições. Há muitas pessoas a fazer boa ciência porque as instituições em que estão as dotam de todas as condições.

- Como vê o financiamento do Estado à ciência? 
Estamos muito preocupados. Estamos muito melhor do que Espanha, que fechou ciência, acho que temos pessoas no ministério que acreditam na importância da ciência. A Fundação para a Ciência e Tecnologia manteve os concursos mas reduziu os critérios, aumentou as restrições. Também acho que, como em qualquer conceito, de vez em quando é preciso podar uma árvore, porque ainda temos ciência medíocre em Portugal. Eu avalio para a Suíça, para a Alemanha, etc, e há lá ciência muito mais aborrecida do que a nossa, mas o nível médio é muito melhor lá. Lá já não há coisas medíocres. É preciso podar, e estaria talvez na altura de o fazer, mas não podemos podar pelo caule porque pode já não crescer.




E alguém consegue confirmar que "Em 2012 Portugal canalizou para a ciência e desenvolvimento quase 2% do OE (Eurostat), o quarto valor mais elevado da Europa, só superado pela Alemanha, Estónia e Islândia"? É que ou há uma previsão de 0,9% ou de 1,5%, a descer dos 1,64% de 2009, mas "quase 2%" e à frente daqueles países é que não consigo descobrir...