20 setembro 2002

VITAMEDIAS - Rangel em entrevista: Pela primeira vez, desde o 25 de Abril, julgo que estamos confrontados com um problema, grave, de concentração em Portugal. Há situações em que os órgãos de comunicação fazem campanhas em defesa dos interesses dos seus próprios accionistas. Há também casos concretos de sonegação de informação, sobretudo nos jornais.
- E na rádio? E na televisão?
A rádio e televisão estão mais distanciadas, os jornais não. Há campanhas feitas contra pessoas, contra instituições. Há jornais que, pura e simplesmente, se colocam ao serviço de partidos políticos e de grupos económicos...
- Não é algo de conjuntural?
Já é estrutural. É, aliás, engraçado ver como uma campanha contra a pessoa A, começa na revista X, estende-se ao jornal Y e, de repente, estão dez órgãos de comunicação a dizer o mesmo, incluindo a televisão...
- Como é que se pode romper esse cerco?
Há varias hipóteses. Uma delas é criar maior diversidade. Esse é, julgo, o grande segredo. [...]
E há o projecto anunciado para a RTP, que, pelo menos na sua origem, conduz ao desmantelamento da RTP.
- Está a falar da RTP2?
Não só, ouvi há dias o dr. Almerindo Marques dizer, com enorme clareza, que a RTP, serviço público actual, acaba no dia 31 de Dezembro. Não fui eu que o disse, foi ele.
- O que é que isso pressupõe?
A convicção que tenho é a de que se está a cometer um erro. Há um Governo legitimidado para tomar decisões, e que será julgado por isso, mas parece-me também que temos uma administração da RTP incipiente e desorientada. Em última instância, o que dr. Almerindo Marques anunciou foi o fim da RTP como serviço público e o nascimento de uma nova empresa em Janeiro. E julgo que isso vai envolver também a rádio...
- Uma fusão entre a RTP e a RDP?
Sim, julgo que será criado um serviço público com um canal de televisão e dois de rádio, retomando-se um modelo antigo não fundado nem no estudo, nem na avaliação das situações.
- A que é que se refere quando fala em desmantelamento da RTP?
Que a RTP vai fechar no dia 31 de Dezembro. É verdade que o dr. Almerindo Marques também anunciou a criação de uma nova empresa. Mas quais serão os seus objectivos? Que publicidade terá? Haverá um ou dois canais? Isto é, avança-se para um projecto sem que exista uma definição clara do que se pretende. É uma pena que se termine com a RTP como serviço público. Não há razões que o justifiquem. Ninguém pensaria, sob pena de haver uma sublevação nacional, em acabar com a BBC ou com a TVE. Em Portugal caminha-se nessa direcção.
Rangel "abre o livro", gestor e ministro recusam fim do serviço público: Presidente do Conselho de Administração, Almerindo Marques: "os portugueses já conhecem bem o conceito de serviço público do Dr. Rangel, desde os tempos da SIC". [...] Almerindo Marques rejeitou que o serviço público de televisão termine em Dezembro, deste ano, ideia sugerida por Rangel, admitindo porém que vai surgir "uma nova empresa".
Opinião corroborada pelo ministro da tutela, Nuno Morais Sarmento, que afirmou à TSF que "se a intenção fosse acabar com a RTP bastaria ter deixado continuar a situação como estava". "É preciso que os portugueses saibam que a RTP gastava um milhão de contos por semana, mais do que o Orçamento de Estado contempla para a cultura e para a educação pré-escolar", justificou.