30 dezembro 2002

CULTURAS IN VITRO
Paulo Branco - entrevista:
Há enormes responsabilidades daquilo que está a acontecer da parte do ministro Santos Silva, que, é preciso não esquecer, era ao mesmo tempo ministro da Cultura e do Audiovisual, e nada fez para cumprir a lei. Mas ninguém pede responsabilidades a esse senhor, que ainda por cima tem a lata de abrir a boca nesta história toda. Mas, por outro lado, há também responsabilidades deste novo Governo. [...]
90 por cento de quem nos governa, entre deputados e Governo, são analfabetos culturais. Podem saber ler e escrever, mas pouco mais sabem. Há uma enorme falta de curiosidade e de responsabilidade da parte de pessoas que têm postos de importância, relativamente a toda a identidade cultural portuguesa. Tudo o que se está a passar é reflexo disso. Não se trata de má vontade, acho que é mais inconsciência e incompetência. [...]
Quando o director de Informação da RTP, chamado José Rodrigues dos Santos, me responde ao telefone que não leva ninguém de um filme português ao Telejornal porque a BBC nunca leva ninguém da cultura aos seus telejornais, fico varado. Ele não deve perceber que nos outros países, em Espanha, França ou Itália, é exactamente o contrário, faz-se questão de promover a cultura nacional _ e a BBC tem programas de cinema, o que não existe na RTP. Este director de informação não deve ver um filme português há 10 anos. [...]
Não há nada que nos proteja do audiovisual americano, as televisões não cumprem a directiva da Televisão sem Fronteiras e agora há uma solução para a RTP que não é solução nenhuma. Quando se fala da entrega de um canal à sociedade civil, isso quer dizer nada. É zero. [...]
Alguma vez essas fundações e instituições da sociedade civil deste País, como a Misericórdia, fizeram o mínimo esforço para um apoio significativo da actividade cultural? Como é que a sociedade civil vem agora apoiar o que nunca apoiou em Portugal? Falar-se que a sociedade civil vai tomar conta de um canal da RTP é total alijar de responsabilidades da parte do Estado. É não permitir a quem queira um projecto a sério para a RTP poder apresentá-lo, porque não é de um dia para o outro que isso se faz.