07 março 2003

VITAMEDIAS
[é de segunda-feira mas ainda não vi referências sobre esta entrevista com Paulo Fernandes, da Cofina. Gosto particularmente da última resposta :-)]
"Espanhóis têm dificuldade em perceber que os portugueses em Portugal têm um papel importante":
- Não havendo negócio com a Recoletos, há espaço para dois jornais diários de economia em Portugal?
Não há é espaço para um jornal castelhano [risos]. Haverá espaço apenas para um. Para dois rentáveis será difícil porque o mercado é pequeno.
- Acredita que o "Jornal de Negócios" diário será rentável?
Tem grandes vantagens face ao "DE".Temos melhores condições na impressão e na distribuição porque somos um grupo maior. Os custos centrais são partilhados, não temos de ter uma estrutura própria só para gerir um diário, como é o caso dos grupos que têm um jornal. Vejo com dificuldade que eles possam ter rentabilidade.
- Quando é que o projecto será rentável?
Prefiro não avançar com prognósticos. Não é uma aposta de curto prazo, e estamos convencidos de que não teremos rentabilidade nos primeiros 12 meses.
- A equipa já está formada?
Está praticamente fechada. Queremos avançar com o projecto em Maio.
- Vai manter o nome?
Não, vai chamar-se "Diário de Negócios".
- Quanto é que já investiu?
É difícil dizer porque é um projecto "on going". O grosso do investimento será feito no lançamento do jornal. E também nos meios humanos, mas como alguns já estão no "Jornal de Negócios" acabam por entrar na conta de exploração.
- Qual é a linha editorial do jornal?
Será dirigido aos decisores portugueses. Um jornal verdadeiramente de economia, coisa que o "DE" hoje já não é.
- O "Correio da Manhã" (CM) terá ultrapassado em vendas o "Jornal de Notícias" (JN), embora as contas ainda não tenham sido auditadas. É verdade?
Na captação de publicidade ultrapassámos já em 2002. Em Janeiro e Fevereiro, tivemos vendas superiores às do "JN", com uma média diária de 115 mil exemplares. Há oito anos o "CM" era líder. Um conjunto de erros de gestão - não se acompanhou a descida de preços do "JN" e do "Diário de Notícias" - fez baixar as vendas em 30 ou 40 mil exemplares. Repostas as condições de competitividade, com uma equipa mais forte e coesa e um "marketing" mais agressivo, as coisas voltaram a funcionar bem, e o jornal está com um crescimento de quase 30 por cento face ao período homólogo. Eu próprio não esperava um crescimento desta natureza. O jornal melhorou muitíssimo.
- Está a pensar avançar com edições para outras regiões?
Não vamos fazer nenhuma edição Centro nem Norte. Em relação ao "JN", parece-me extraordinário que um grupo com a competência e a rentabilidade da Portugal Telecom (PT) tenha uma unidade de negócio como a Lusomundo, que é mal gerida e está a perder a liderança na publicidade e na circulação. Não percebo porque é que a Lusomundo não sai da órbita da PT, tanto mais que os accionistas já disseram que não é uma actividade do "core business". A menos que seja por influência do Governo, para criar um serviço público.
- A reestruturação das empresas que comprou está acabada?
Estamos sempre à procura de mais eficiência, de mais produtividade. Mas o grosso da tarefa está concluído. A TV Guia tinha 86 colaboradores, sob a gestão da RTP, e em quatro meses reduzimos para 36, sem qualquer convulsão social e com todas as pessoas a chegarem a um acordo. Gastámos em indemnizações cerca de 400 mil contos. Mas provámos, mais uma vez, que a nossa competência existe e que somos capazes de gerir processos.
- Vai haver mais despedimentos?
Não temos planos nesse sentido, a não ser pequenos ajustes. Aliás, estamos a recrutar para o "Diário de Negócios". Estamos com muita vontade de crescer e de fazer mais uma aquisição, para obtermos ganhos de produtividade. Temos músculo financeiro para fazer aquisições em 2003. Começam a aparecer oportunidades de investimento interessantes. Mas é curioso ver que os potenciais "players" têm uma expectativa de valor muito ligada aos números do anterior "boom" e pouco consonante com a actual crise.
- O seu grupo vai continuar a crescer através de aquisições?
Estamos a estudar quatro ou cinco "dossiers" em áreas que vão dos media à indústria.
- Voltou a negociar a aquisição do PÚBLICO?
Não falo sobre negócios potenciais. E não tenho conhecimento de que o PÚBLICO esteja à venda.
- Interessar-lhe-ia, se estivesse à venda?
Gostaríamos muito de ter um jornal como o PÚBLICO, que chega tão bem aos segmentos A e B. Era um complemento extraordinário para a nossa estratégia.
- Intervem na linha editorial dos projectos da Cofina?
Não tenho uma intervenção diária ou pontual. Longe disso. Tenho horror a que isso possa acontecer. Defino uma linha para os nosso projectos, só intervenho se achar que essa linha não está a ser cumprida.
- Sente que é uma pessoa mais influente desde que tem jornais?
Não sei se sou mais influente, mas as pessoas olham-me como sendo mais influente.
- Os jornais dão prestígio.
Dão prestígio e poder. Mas o poder mediático é mais intuído do que real.
- E isso agrada-lhe?
Por um lado é positivo, mas por outro atrai demasiada visibilidade para os negócios, chama a atenção dos media.