21 novembro 2003

VITAMEDIAS

Tem razão o Retorica e Persuasao. Num blogue de contrafactos e argumentos devia apresentar estes se duvido de outro texto.
Por vezes isso não é necessário quando acrescento textos que são eles próprios argumentos para desmontar os "factos" anteriores. Não foi o caso.
Apesar de eu só ter dúvidas, merecem argumentos as "certezas", "convicções" e "confusão de termos" no Retórica:
1a) "O jornalismo não pode ser, nem é, mero espelho da realidade" [...]
1b) "o que o jornalista comunica é sempre a sua avaliação da realidade e nunca o facto em si mesmo" [...]
Se ambas as frases podem ser verdadeiras para o caso da imprensa e da rádio, atente-se na televisão para perceber como um jornalista que transmite imagens em directo não está a impôr a sua avaliação da realidade mas a transmiti-la.
Nos meios não televisivos, quando os jornalistas entrevistam ou ouvem alguém em declarações, o facto é o que essas pessoas dizem, apesar do que os jornalistas possam escrever em redor das declarações (falo, claro, de situações em que não se retiram frases do contexto...).
Noutro tipo de reportagem, o jornalista não é espelho da realidade mas um colector de fragmentos (factos?) dessa realidade. Se o facto já existiu, ele tenta recriá-lo (no sentido jornalístico) a partir de intervenientes directos. Não há subjectividade, há uma oportunidade na escolha desses intervenientes.
2) "é justamente pelo facto do jornalista se bater pela objectividade e pela verdade que tem necessidade de argumentar em favor dos seus critérios de selecção dos factos, do enquandramento e do significado que lhes concede ou atribui" [...]
A confusão de termos surge nesta frase e deriva do que é antes escrito pelo Retórica. O jornalista não tem de se bater pela ou demonstrar a sua objectividade, ele deve ser objectivo e verdadeiro perante os factos que relata. A nuance é importante.
Assumindo, como alguns autores o fazem, que a objectividade é impossível no jornalismo, mesmo assim entendo que existe uma "objectividade jornalística". Mas esta é uma discussão interminável.
Ora isso não significa explicitar o porquê da escolha dos factos - aliás, seria redundante porque a sua emissão/publicação já presume o valor da escolha em termos hierárquicos sobre a realidade.
(A questão é se quando o jornalista escolhe o facto A e pretere o B está a exercer uma "opinião" e não a hierarquizar a importância dos factos.)
Por isso me afasto da presunção de que o jornalista deve retornar ao "mundo da opinião, da intersubjectividade, do confronto e livre discussão das ideias" para, precisamente e como refere o jornalista citado no Abrupto, afastar a minha opinião dos factos que o leitor necessita para formar a sua opinião.
O jornalista não necessita de demonstrar o porquê da sua escolha mas [saltando vários passos] precisa realmente de "mostrar aquilo que o próprio facto (isolado) nunca deixaria ver". Chama-se a isso contexto - não opinião.
Uma nota final sobre o fim do jornalista e a ascensão da câmara de filmar objectiva: até estes equipamentos têm opinião, porque atrás deles está sempre alguém a manobrá-los. Eisentein, Dziga Vertov e outros andaram por esses caminhos. Hoje, quando se filma um ajuntamento de pessoas, sabe-se como fazer parecer se é uma multidão ou apenas um pequeno grupo. Porque uma imagem vale por muitas palavras e porque vivemos numa era visual, é bem pior uma câmara subjectiva do que um jornalista objectivo.