15 novembro 2003

VITAMEDIAS

Em situação de guerra, a liberdade de expressão é sempre a primeira atingida.
A frase é velha e não devia ser entendida de forma literal. Lembrei-me dela agora que, pelo que se sabe, todos os jornalistas (e outros) portugueses no Iraque estão finalmente bem.
Não entro em políticas, se a GNR devia ter sido enviada para o Iraque no Ramadão, quando ataques a entidades ocidentais grassam naquele país, se sabe que Portugal é aliado dos Estados Unidos e os elementos da GNR vão com uma referência em árabe nas fardas a declarar que são de Portugal.
Fico-me pelos jornalistas - eu que nunca estive em qualquer guerra - para repudiar o triste comunicado do Sindicato de Jornalistas com o título "SJ responsabiliza Governo pela situação de jornalistas no Iraque".
O sindicato acaba por referir as condições em que as empresas jornalísticas enviam os jornalistas mas acusar o governo é de tal má fé que só encobre um ataque político.
Não sei qual foi o acordo entre o governo e os jornalistas (ou as suas empresas). Eles foram à boleia, pagos pelo Estado? Ou foram as empresas que assumiram os custos? Na resposta destas questões está o responsável. O comunicado - tal como as reportagens das entidades jornalísticas - não é elucidativo.
O que se sabe é que "o caos, que é o maior inimigo de todas as decisões, marcou desde o início a viagem do contingente da GNR para o Iraque e dos nove jornalistas que o acompanhavam."
Claro que o facto de a GNR deixar os jornalistas à sua sorte é de uma inconsciência total (e as desculpas oficiais confrangedoras) mas basta ler o texto do Público para perceber a fragilidade em que os jornalistas foram para este cenário bélico-informativo (leia-se, por exemplo, os seus currículos...).
Diz o Público: "Junto dos britânicos, a informação é que os jornalistas deveriam conseguir escolta portuguesa. Os repórteres britânicos nunca entram sozinhos no Iraque. As suas forças escoltam-nos sempre ao ambiente mais seguro das cidades a partir de onde podem planear fácil e eficazmente o trabalho no interior do país.
Sabendo-se de véspera que isso não era possível, já que as forças portuguesas no Iraque estão sem autonomia, dependentes das forças que as recolhem, e recusada a escolta britânica por não serem os jornalistas portugueses da sua responsabilidade, a opção é seguir em frente. "
O desenrascanço nacional no seu melhor, sintetizado igualmente neste editorial do DN: "Só que um verdadeiro repórter não enjeita, até deseja, trabalhar num cenário de guerra e quer sempre ser o escolhido na hora da partida. Os nossos profissionais são tão corajosos como os demais. Por isso, estão no Iraque."
E por isso uma levou um tiro, outro foi raptado e, segundo o Público, um outro entrou no Iraque e foi para Bassorá sem documentos oficiais?...
Isto não é jornalismo de guerra, é uma infeliz actuação de governos, empresas de media e jornalistas no seu pior. Mas todos acham que é "jornalismo de guerra"!