06 setembro 2004

VITAMEDIAS

Jornalismo é uma foto onde uns ficam e outros não saem:
«para quem é que os jornalistas escrevem?»
Eles têm presente que há leitores que não falharão as suas notícias, as fontes. Apercebi-me depois de falar com muitos jornalistas que têm uma ideia abstracta de quem são os outros leitores, os reais. Pensa-se em pessoas conhecidas que se interessam pelo assunto. Há um grande desconhecimento. Por outro lado, acho a cobertura da política muito pobre e estereotipada.
Quer explicar melhor?
Escreve-se muito a partir de declarações e contradeclarações, picardias. Há pouco sumo. Trabalham com fontes anónimas e dão à política a ideia de actividade pejada de corruptos. Essa imagem é primária. Trata-se a política da forma mais rápida. Para a discussão do orçamento é mais difícil o jornalista preparar-se para explicar como as opções afectam o cidadão, do que fazer peças de tricas. A ideia é esta, apesar de redutora. O jornalismo vira-se para o leitor decisor, com background, de classe média... mas são imaginários. Como se não fosse preciso tocar mulheres e jovens.
É por isso que defende que o jornalismo é demasiado importante para a discussão ficar entre jornalistas.
Há dificuldade em perceber a lógica jornalística. E é importante partilhar com as pessoas comuns a maneira como as notícias são seleccionadas. Fazer informação tem custos, enviar um correspondente mostra um investimento diferente. Se os processos de produção forem conhecidos, haverá outro tipo de exigência sobre o que é publicado.