22 outubro 2004

VITAMEDIAS

Hoje nada tem mais importância para os políticos do que a televisão, diz Manuel Vilaverde Cabral.
- Os políticos aproveitam-se da comunicação social?
- Sim e não.
- Isso significa o quê, que há benefícios mútuos na relação media/políticos?
- Se os políticos não podem viver sem os media, também os jornalistas têm dificuldade em viver sem os políticos. Entre eles reina, como está estudado, uma «espiral de cinismo» (Capella & Jamieson, Oxford University Press, 1997), com cada corporação a tentar ganhar à outra para gáudio da assistência!

A cabala: O Mário Crespo telefonou para uma rádio a dizer que foi despedido da RTP pelo PS.
O ministro Morais Sarmento citou Mário Crespo na Assembleia da República.
Quatro horas depois, Morais Sarmento era convidado de Mário Crespo na SIC.

A Estratégia da Aranha: E se o poder é perigoso e cega a todos, é especialmente perigoso para pessoas como Santana Lopes, que vivem da construção de uma imagem e de uma ficção. No poder, a sua fatal tendência é deixar de ver a imprensa - que sempre lhe deu asas para voar e para a construção do mito - como o adversário em relação ao qual ele sente a necessidade de ser oposição. Cá fora, a liberdade de imprensa foi-lhe sempre essencial; lá dentro, sente-a como uma ameaça, um adversário a combater. Por necessidade e por vaidade.

Espaço Público: E, por isso mesmo, as dúvidas levantadas pelo Partido Comunista Português quanto à legalidade da "requisição civil televisiva" efectuada pelo Governo para vermos o primeiro-ministro, embora já não tenham consequências práticas, têm toda a razão de ser. Será que a intervenção do primeiro-ministro se justificou por qualquer calamidade nacional? Só se foram as inenarráveis declarações do ministro Gomes da Silva...
De qualquer forma, seria curioso e instrutivo saber quem pagou as despesas do pessoal e equipamento televisivo utilizados nas transmissões.

A independência editorial: Ao longo da última década, consolidou-se uma alteração estrutural no panorama mediático em Portugal. Tão ou mais importantes do que a independência do jornalismo face ao poder político passaram a ser o distanciamento e a capacidade crítica frente aos vários poderes económicos.


Contraditório por Inês Dentinho, Assessora política do primeiro-ministro: Mesmo para quem, como eu, tem defendido que não se deve governar em função das sondagens, o desgaste da imagem do Governo ao fim de apenas dois meses levanta problemas que devem ser encarados de frente. Porque este desgaste não acontece por acaso. É que mesmo seguindo a máxima de Maquiavel - "faz o mal todo de uma vez e o bem a pouco e pouco" - e os conselhos de Cavaco - as medidas difíceis são para os primeiros seis meses -, é indiscutível que este Governo tem acrescentado mal ao mal e dificuldades ao que já era difícil.

[Act.: depois disto tudo escrito, leio este "TODOS OS DIAS MAIS DO MESMO", um contraditório ao meu contraditório: "Esta assessora é uma antiga jornalista e só podia ter escrito o que escreveu a pedido do Primeiro-ministro, tanto mais que os assessores políticos, em principio, não escrevem artigos para os jornais."
Em princípio? Não escreviam mas já escrevem. Vivemos, sem dúvida, tempos de mudança...]