02 fevereiro 2005

VITAMEDIAS

Resposta à "vigilância" ou exercício de cidadania?

"Pedro Fonseca, parece-me, assume uma visão muito pessimista daquilo que os cidadãos podem fazer com os instrumentos de "voz" à sua disposição".
- Um pessimista não é um optimista realista?

"Fico com a ideia de que o Pedro acredita que, por uma questão de justiça e de qualidade, o escrutínio deve ser organizado e institucionalizado"
- só pela questão da qualidade. E por uma questão de equidade e de desconfiança por entidades como "bloggers" que ninguém conhece ou se podem esconder no anonimato e apenas em caso de litígio judicial serão conhecidos (exemplo? veja-se o caso Muito Mentiroso...)

"(via um Obercom que não o que existe ou via um espaço como o Clube de Jornalistas)"
- ou seja, um que não tem essa vocação ou outro que entra timidamente nesta esfera quando é "clube" dos jornalistas?
Não são as suas competências!
Muito têm feito eles mas é necessária outra entidade, outro grupo de interesses, se quiser, ou então nada, deixar andar.
Quem controla o que é dito nas televisões ou nas rádios? O que eu já disse é simples: se querem vigiar, vigiem-se todos mas não pode ser só a imprensa escrita ou online por ser a que mais deixa registos. E isto quando a TV é a que mais impacto provoca!
Mas quem está disposto a pagar por uma entidade, empresa ou organização popular (tipo blogue) que grave, analise e verifique as calinadas da TV (e dos media, em geral, claro)? Outra TV, um jornal ou uma rádio?!?!?! Não é possível, actualmente. É necessária uma terceira via, com as devidas distâncias políticas.

"Eu não vejo nenhuma incompatibilidade na existência simultânea de orgãos como estes e de olhares individuais de observação crítica da actividade jornalística (seja via a tradicional carta ao Director, a mais nóvel Carta ao Provedor ou, ainda, num qualquer blogue)".
- Nem eu mas o espaço reduzido das cartas (repare como andamos na imprensa e se deixa de lado a rádio ou a TV...), e a atomização e personalização dos blogues não permite a construção conjunta de um contraponto público eficaz e forte que as acima referidas entidades possam ter. Podem vir a ter, sem dúvida, mas não o são actualmente. Os blogues, pela sua quantidade, apenas contribuem para mais ruído e ineficácia. Mas e se houvesse uma entidade que avaliasse os blogues que se dedicam - directa ou indirectamente - às práticas do jornalismo?

"O Pedro parece ainda desejar que os blogues tivessem um papel mais interventivo e mais responsável. Nisso estamos de acordo. Mas o mesmo podia dizer da nossa vida social, na generalidade".
- E já o disse várias vezes - lembra-se de me lembrar a minha defesa das élites intervenientes?...
A questão essencial nesta conversa, para mim, é se podemos ou não melhorar o jornalismo que é feito em Portugal hoje. Eu acho que sim, com blogues atentos, "think thanks" inexistentes, observatórios independentes e claramente focados, com meios e reprodução pública e vigiada dos resultados (a tal questão de quem vigia os "watchdogs").

"Se calhar temos os blogues que merecemos, assim como temos os jornais, as rádios, as televisões, as estradas, os políticos e a bendita Guarda Republicana".
- Sem dúvida mas não há na frase alguma desistência? Eu ainda acredito ser possível - mas também tenho os meus dias em que não acredito - a sua realização. Sou humano (não-bipolar, acho), antes de ser jornalista.

"Não creio que haja qualquer problema de abuso de liberdade no acto de ler com atenção, elogiar, apontar falhas ou avançar sugestões a um qualquer jornalista". Isto - e é disto que falamos
- Não é isso que está em causa, isso é positivo. Já concordámos nisso e então só podemos concordar e deixar de lado a conversa sobre os potenciais abusos que podem advir da vigilância de jornalistas caso-a-caso.

"Talvez por cá as pessoas tenham mesmo aderido tanto aos blogues porque, por exemplo, as edições online dos nossos maiores diários continuam a não integrar links para documentos nos seus textos e a não disponibilizar o endereço electrónico de quem escreve (para apenas citar duas pequenas medidas)."
- Talvez mas, sobre o segundo ponto, o que me diz do trabalho do José Pedro Castanheira que no Expresso percebeu a enormidade do trabalho que era responder a leitores "online"?

"E talvez por isso - como acontece no mais das vezes face ao desconhecido - a reacção primeira seja, sobretudo, de crítica pesada, muito pouco construtiva."
- Mas não é verdade! Os jornalistas, por exemplo aqueles que escrevem sobre novas tecnologias, são muitas vezes quem mais alerta para o potencial (e também para os perigos) das mesmas. Não há nesta conversa crítica pesada; existem dúvidas e alertas construtivos para o que pode advir de certas posições tomadas em períodos de "soundbytes" ou fascínio pelo que é "modernaço". Esse é o erro de alguns jornalistas - tal como é de políticos quando pegam nestas novas tecnologias: lembra-se de Paulo Portas a reinvindicar o "V-chip" (microprocessador de vigilância para a televisão) só porque alguns norte-americanos conservadores o defendiam? A sua proposta era ineficaz porque aquele sistema nem sequer existia ainda? Isto são os "modernaços", os "soundbytes" ineficazes. Temos de olhar para as coisas de forma mais ponderada e realista!

"Percorra o jornalismo o caminho necessário e talvez as reacções sejam diferentes."
- E que caminho é esse?