Invocado pelo Luís Carmelo como blogue com "vocação" para lidar com "as vertigens dos media" (conceito de que espero uma clarificação, obviamente), não viro costas e apanho-me a ler e a descobrir coisas inesperadas.
A primeira: a propósito do último parecer do Provedor do Leitor do Público ("O oito e o oitenta"), o Luís revela que "Alberto Magalhães - posso revelá-lo com autorização sua - é psicólogo clínico, exerce há trinta anos e é Mestre em sexologia)".
Podia ter acrescentado que desde Maio de 2006 um outro ou o mesmo Alberto Magalhães colaborou com o blogue Alandroal a partir de uma crónica na rádio DianaFM.
Ou seja, a verificar-se a ligação, o lado clínico dilui-se assim num lado mais... mediático?
A segunda tem a ver com a crítica aos textos no Público (nota, para conforto de todos, que não conheço pessoalmente nenhum dos intervenientes do que aí vem) e é feita apenas a partir do que é escrito pelo provedor.
Este não tem razão, em ambos os casos - exceptuando os dados estatísticos que a jornalista assume como erros. Porquê?
No primeiro caso, questiona o jornalista pelos detalhes sórdidos do artigo ao que este responde: "As alusões feitas pelo leitor estão fora de contexto" (...) "Porque estão seccionadas. O leitor pega em algumas passagens da notícia e junta-as como se elas assim tivessem sido publicadas" e ainda que "são resultado do acórdão proferido em tribunal e, também, expressões utilizadas pela juíza que presidiu ao julgamento." Mais, "havia matéria, por chocante que possa parecer, que deveria ser relatada para que, desse modo, os leitores pudessem ter uma mais profunda percepção e conhecimento da acusação e do caso em julgamento."
E qual é a inesperada resposta do provedor? "O problema é o jornalista ter confundido informação e opinião e descrito exaustivamente pormenores da vida íntima que não são, de todo, indispensáveis para a boa compreensão da notícia."
Eu duvido que a explicitação sobre o tipo de sexo havido no casal contribua para "uma mais profunda percepção" mas, como disse, não li o artigo original (e considero um erro o provedor não o(s) divulgar neste tipo de casos, quando tem um blogue). Mas como é que o jornalista "opinou sobre a suposta miséria social do casal, o que é uma conclusão da sua lavra" se citou o acordão? Porque é que o provedor não explicita o que é opinião e factualidade sobre um texto de 14 de Dezembro? Alguém se lembra?
No segundo caso, o provedor (e não se entenda isto como uma crítica ao cargo do provedor mas apenas e só a este texto), propõe-se rectificar os dados escritos pela jornalista (que assume alguns dos erros). Mais uma vez, refere-se a questão da opinião integrada num texto noticioso. Sou contra, obviamente.
Mas admirável é o provedor do Público propor-se considerar e discursar sobre o que é o progresso (ou o seu "Progresso"): "O provedor considera, por outro lado, que os conceitos de Progresso são discutíveis". Claro como a água suja, obviamente, sem dúvida. E elabora:
"66% de mulheres na universidade é um sinal de progresso?
Os casamentos homossexuais são um sinal de progresso?
A diminuição dos casamentos é um sinal de progresso?
O aumento do número de filhos nascidos fora do casamento é um sinal de progresso?"
Bem, como o próprio provedor costuma fazer (e não, não estou a falar de retirar frases de contexto), podia-se pegar num qualquer dicionário e explicar que progresso é o "movimento progressivo da civilização e das instituições político-sociais; tendência do género humano para a sua perfeição, para a felicidade". Também se podia falar em "progredir" ou "desenvolver-se" mas chega para consubstanciar a ideia, ideia sem resposta à pergunta quase bíblica "O que é o Progresso? E de acordo com estes critérios onde se situaria o Progresso absoluto?
A única constatação a que o provedor chega é que a instituição Família está a sofrer uma profunda mutação".
Mas alguém pediu ao provedor uma constatação sobre a família (no caso dele, com maiúscula)? E como é que ele chega a essa constatação e a essa passagem - quântica? - entre progresso e família (sem maiúscula)? E quererá ele explicar o que é o "Progresso absoluto"? São palavras vãs ou há conceitos científicos ou religiosos nas suas palavras?
Finalmente, "O provedor duvida também do carácter científico da seguinte afirmação: "A legalização das uniões gay é vista como ‘um sinal de progresso porque é sintoma de orientações sexuais mais diversas e de práticas menos discriminatórias’."
É uma afirmação tanto mais polémica quanto não está no artigo. Foi "rematada" a posteriori pela socióloga (como reconhece a própria jornalista). É, portanto, uma opinião, discutível por definição. E o provedor recusa peremptoriamente juízos de valor de natureza social travestidos de informação. A jornalista tornou sua a tese da socióloga e promove a opinião dela (sobre a matéria) a facto indiscutível".
Ou eu não li bem, o que assumo, ou também eu duvido do carácter do provedor sobre a afirmação: então ele pede uma explicação à jornalista, ela clarifica e o próprio provedor assume que a resposta da mesma não está no artigo publicado mas mesmo assim permite-se referir que é "uma afirmação tanto mais polémica quanto não está no artigo". Não percebo e a falha é minha, obviamente.
Por tudo isto, e para abreviar, aproprio-me das frases do referido provedor:
1) "No primeiro artigo o "rigor" foi elevado a 80; neste fica-se pelos 8", para acrescentar que o provedor se fica pelos 800.
2) "Seriam dois casos de somenos importância se não ilustrassem a actual tendência dos jornalistas para o "facilitismo"", tal como parece suceder com o único provedor a sério nos diários em Portugal.
Para rematar este triste episódio, caro Luís, espero ter explicado que a vertigem, neste caso, não é minha.