26 maio 2007

Meia Hora em 5 minutos

Após o comentário e o texto, volto a questionar: pode um jornal gratuito ser de referência?
Caro Rui, a questão não é pela publicidade (se é gratuito, é por aí que vai obter os rendimentos). Habituados às rádios e televisões gratuitas, porque o não hão-de ser os jornais ou revistas? Não é essa a questão e nem vou entrar nas contradições ("duvido que seja desta"...) ou na escassez da equipa. Eles podem querer ser de referência mas não é por o anunciar que vão dar notícias de política, internacional e opinião que são de referência.
Um gratuito tem uma lógica simples: chegar ao maior número de pessoas, ser lido em pouco tempo (meia hora...), validar a audiência para os anunciantes pagarem os custos.
Podemos não ter redacções com "qualidade da produção", podemos não ter "um jornal que mereça o título de jornal de referência".
Podemos e não temos. Mas quando não temos financiadores para um jornal pago de referência, ele vai existir pelo lado gratuito? É que não é nada "fácil marcar a diferença pela positiva". E não são os artigos de opinião que fazem de um jornal ser de referência, isso é uma ilusão paralela - são as notícias. Quero dizer: a opinião não é secundária mas eu, pelo menos, leio um jornal pelas notícias. Erro meu?
A questão é - ao contrário do que o Rui diz e eu concordo -, a questão é que a definição de jornal de referência está a ser alterada (para pior, quanto a mim), o que permite vir a ter um diário gratuito de referência. Claro!
Mas um jornal de referência não se lê em meia hora. Um jornal de referência faz-nos pensar e dá informação para pensarmos nos dias seguintes. Recomendo a leitura do artigo de hoje no Expresso por Miguel Sousa Tavares ou do link sobre palermices escritas no britânico The Independent colocado recentemente no Blasfémias.
Se calhar, do que andamos a falar é da morte dos jornais de referência. Que os gratuitos se possam afirmar como de referência, veremos porque, mais uma concordância, "isto tudo é um execício de abstracção dado que não faço ideia daquilo que aí vem na prática".
Uma última resposta sobre se "o New York Times ou o El Pais teriam de fechar as portas se amanhã passassem a gratuitos? Teriam de abdicar do que são como jornais?"
O Rui e eu somos inteligentes para saber que podiam não fechar as portas mas teriam de abdicar de muito do que são como jornais conceituados. A economia do negócio, o custo dos bons recursos humanos, a lógica de um mercado concorrente, falaria mais alto. O Rui sabe melhor disso do que eu.

[act. que já devia ter referido: Um gratuito... de referência?]