Culturas, economia e política, tecnologia e impactos sociais, media, contaminantes sociais, coisas estranhas... Cultures, economy and politics, technology and social impacts, media, social contamination, weird stuff...
06 julho 2007
No jornalismo, quantidade é qualidade? Uma actualização:
Mais de 270 apoiantes no MIL, sem grande obra produzida sobre o assunto, e eis alguns dos críticos com os quais me identifico mais:
Rejeito em absoluto as novas formas de censura que se pretendem impor aos jornalistas, sob a capa do novo estatuto para a classe. Mas tenho que dizer três coisas, a primeira é que me espanta o "timing" do protesto, já depois de o estatuto ter sido aprovado na AR ao fim de mais de um ano de preparação legislativa, e depois de todos os órgãos de informação terem passado por cima de qualquer discussão sobre a matéria. Na minha opinuão, isto demonstra que, na realidade, este protesto recém-nascido não é, de facto, contra as novas directrizes controleiras - mais do que conhecidas, e deixadas aprovar sem contestação. A segunda observação que tenho a fazer é que, na lista dos signatários do protesto, aparecem“resmas, “palettes” de nomes que, na redacção onde mandam alguma coisa, por pouco que seja, com toda a discreção, sem direito a discussão ou a blogue, põem em prática muitas das directrizes contra a quais assinam abaixo. Isto parece-me a prova provada de que o que se pretende verdadeiramente, com este protesto é conseguir aprovar, a reboque do estatuto, a uma ordem para a classe, algo absurdo quando os jornalistas são trabalhadores não liberais, cujo acto profissional não é, de facto, livre. Por fim, quero dizer que, dada a infeliz conjuntura sócio-económica e laboral, as redacções estão autoamordaçadas e autocontroladas, a ponto de os jornais se terem tornado espelhos baços que pouco revelam da realidade. Mesmo assim, por pouco livres que os jornalistas já sejam, continuo a querer protestar contra um estatuto que limita ainda mais a sua liberdade e autodeterminação.
Isabel Braga (jornalista com a carteira profissional nº 797, "convidada" a sair do PÚBLICO em Setembro do ano passado e desde então no desemprego)
Por isso importa perguntar: Será que alguma vez as ”estrelas“ dos Media se preocuparam, verdadeira e atempadamente, com o que se está a passar nas Redacções e com o carácter prepotente da nova legislação?
É claro que não.
Rui Costa Pinto
SER JORNALISTA É CHEGAR ATRASADO ASSIM QUE POSSÍVEL (Fernanda Câncio): É nesta altura que assistimos à criação de um movimento de jornalistas, o MIL (Movimento Informação é Liberdade), que alega estar "em marcha o mais violento ataque à liberdade de Imprensa em 33 anos de democracia", incluindo nele o Estatuto, "os poderes e a prática da Entidade Reguladora, as novas leis da Rádio e Televisão e o anteprojecto de lei contra a concentração da titularidade". O manifesto não explica exactamente o que desagrada ao MIL nestas leis ou propostas. Tão-pouco dá um motivo para só agora ter consciencializado tão inusitada violência. O MIL explica-se pouco, como se fosse tudo evidente. Mas promete, imagine-se, uma coisa de que nunca ouvíramos falar: "Auto-regulação".
Tudo isto me faz lembrar uma frase do jornalista e escritor sueco Stig Dagerman: "Ser jornalista é chegar atrasado assim que possível." Contra mim falo, e aqui faço o meu mea culpa. Espero pois poder ousar uma pergunta: estávamos à espera de quê?
[Para a confusão, ler ainda Chegar a tempo]
Uma nota final: o desejo manifestado de se disporem a exercerem o «controlo do acesso e do exercício da profissão» é que me parece totalmente deslocado e ilegítimo. Não devem os cidadãos verem o acesso a este tipo de profissão impedido por regras e condicionalismo criados pelos profissionais que já estão no activo. Seria a mais despudorada forma de controle sobre os seus potenciais concorrentes, uma óbvia restrição à liberdade profissional e ao próprio exercício do direito de informar. Tal pretensão não tem qualquer cabimento nem existem razões de interesse público que a suportem.