14 fevereiro 2009

Flores, burros, pressões, políticos e jornalistas

UMA FLOR FRÁGIL: Na célebre frase de Lorde Acton sobre poder e corrupção, inserida numa carta dirigida, em 1887, ao bispo Mandell Creighon ("O poder tende a corromper, o poder absoluto corrompe absolutamente"), sempre me impressionou menos a possibilidade de cedência a tentações materiais em troca de favores ilegítimos do que aquilo a que chamaria "corrupção do espírito". [...]

Toda esta dissertação enquadra uma declaração pública recente do director do semanário Sol, um homem sério e um jornalista credível. Saraiva revelou que tinha recebido um telefonema de "alguém muito próximo do primeiro-ministro, embora não membro do Governo", a sugerir que os problemas económicos da empresa seriam rapidamente resolvidos se o jornal recuasse na divulgação de factos relacionados com o chamado caso Freeport. A gravidade da proposta, em termos de ameaça à liberdade de imprensa, é tão evidente que dispensa considerações suplementares, e só é pena que Saraiva não tenha sido mais explícito, como também não se percebe que a matéria pareça ter caído no esquecimento.

Um olho no burro e outro no cigano: Sócrates criou um modelo de ‘política musculada’ que agrada à direita.

Por outro lado, ao pôr a mão debaixo dos bancos, criando a ideia de que não os deixará cair, Sócrates tem naturalmente os banqueiros consigo.

E quem tem a sobrevivência dos bancos na mão tem os empresários na mão.

Todos os empresários, nesta conjuntura difícil, dependem desesperadamente da banca. [...]

Vivemos um tempo que se pode classificar como de ‘democracia limitada’.

Sócrates construiu uma estrutura de poder que infunde receio.

Claro que isso também tem o seu mérito.

E em tempo de crise tem as suas vantagens.

Mas atenção: mesmo os que beneficiam deste estado de coisas devem perceber que é decisiva a subsistência de vozes livres.

Essas vozes, que hoje lhes podem parecer chatas e incómodas, serão amanhã as garantes da sua própria liberdade.


ERC diz que não investiga pressões (ou serão "démarches"?) sobre o semanário "Sol": Afinal para que servirá mesmo a ERC???... Não será para... "Assegurar a livre difusão de conteúdos pelas entidades que prosseguem actividades de comunicação social (...)" (Estatutos, artº 7º - Objectivos da regulação). Se assim é, como entender que a ERC não tencione "averiguar" um caso destes? Talvez porque para a ERC, segundo consta, não há "pressões" aqui no burgo. Aqui, só mesmo "démarches"...

Entidade Reguladora acha normal pressões entre jornalistas e políticos: A ERC arquivou o processo relativo às alegadas pressões do primeiro-ministro para travar notícias, o “Expresso” teve que recorrer à Comissão de Acesso aos Dados Administrativos para ter acesso ao processo e só nove meses depois de a CADA ter ordenado à ERC que divulgasse o conteúdo do processo o semanário conseguiu aceder a este dossiê.