A imprensa está numa encruzilhada.
As edições em papel vendem menos exemplares a cada trimestre.
A publicidade online não sustenta uma redacção online agregada ao negócio da impressão e distribuição em papel. A publicidade online não sustenta sequer uma redacção online benemérita.
A ideia dos leitores a migrarem do papel para o online pode ser um erro. Num inquérito sobre os anos 2003 e 2006, constatou-se que 75,1% não lia jornais na Internet, “enquanto 21,8% assume fazê-lo”. 39,3% afirmava em 2003 consultar notícias da imprensa geral, em 2006 baixaram para 35,4%.
Há um número reduzido de acessos à Internet (1/5 da população?), com tendência para estabilizar.
Os patrões dos media aproveitam a crise para reduzir custos e emagrecer as redacções, esperando ter jornais em papel e no online com notícias de agência. Ficam todos a falar (d)o mesmo. O termo “agenda” é igual a “agência” que é igual a uma voz única em dezenas de meios de informação (rádios locais e imprensa regional incluídos).
No online, a agência nacional que fornece os media concorre directamente com estas publicações que a financiam e lhe compram os artigos, associando-se a motores de busca como o Google para garantir preponderância no ranking das “breaking news”.
Em jornais com as mesmas notícias de agência e redacções com menos jornalistas, de menor idade e sem apoio de editores consistentes (com efeitos perniciosos na política e na economia), é impossível a qualidade não diminuir.
O resultado é ampliado pelas críticas online – muitas ferozes, injustas e de oportunistas (no combate político, por exemplo).
Uma classe política ou empresarial culta olha para os media e vê uma oportunidade democrática. Os outros vêem problemas. Uns porque são escrutinados, os outros porque lhe podem estragar o negócio. Ambos perceberam como dificultar a vida à imprensa, até pela via legislativa. Ambos o fazem com o corte cirúrgico da publicidade e a divulgação selectiva de informação.
Neste caldo, o leitor afasta-se de um bem que perdeu “panache”, estilo, o saber ser importante para a sociedade que relata todos os dias, se tabloidizou e gratuitizou.
O referido inquérito da Obercom nota como “existe uma forte tendência para a leitura de jornais pagos ser mais valorizada”. Os media seguiram o caminho inverso e a fraca e gratuita oferta televisiva ocupou o terreno publicitário e dos consumidores.
A crise económica agudizou esta tendência – mas os jornais económicos aumentam as vendas. São os únicos que satisfazem as necessidades informativas?
Martim Avillez Figueiredo – que não aposta no online porque não dará retorno nos próximos anos - assegura que o seu i foi buscar 22% de leitores que antes não pegavam em jornais.
Em resumo, é possível levar as pessoas a ler jornais, mesmo em tempos de crise.