Os media continuam atrasados para chegar ao futuro?
Apesar de nunca ser nomeada na declaração de Hamburgo, a Google (e apenas ela, de tantos motores de busca...) resolveu mostrar que está “Working with news publishers”.
A empresa explica que os direitos de autor nunca estiveram em questão (pertencem aos grupos de media) e lembra que duas pequenas linhas de código do Robots Exclusion Protocol (REP) garantem a esses grupos a inacessibilidade. Mais: “REP isn’t specific to Google; all major search engines honor its commands”.
Realmente, é difícil conter um sorriso. Uma empresa que não adere à solução tecnológica ACAP defendida pelos media, propõe uma resolução técnica.
E, naturalmente, lembra como “more than 25,000 news organizations across the globe make their content available in Google News and other web search engines”, sendo que “delivers more than a billion consumer visits to newspaper web sites each month”.
Como escreveu um David nos comentários ao texto, “This is a very nice way of saying, ‘You guys in the newspaper industry are dingbats. If you don’t want us to send you traffic, we wont. Stop complaining”. Ou, dito de outra forma, “Put up or shut up”.
Tradução: “Assumam ou calem-se!”
“A frase é boa e resume tudo o que deve ser dito sobre os jornais e outros media que querem chatear o Google por causa de agregar notícias”, diz António Granado. O texto “até inclui as duas linhas de código que os sites têm de pôr nas suas páginas para não serem indexados nos motores de busca. Simples. Muito simples. Mas até aposto que ninguém se atreve…”
Os jornais não têm de se atrever, nem querem “uma lei que obrigue alguém (neste caso, o Google) a comprar um produto...”
É bom recordar que a Google já perdeu, pelo menos, na Bélgica e na Alemanha pelas suas práticas de uso de conteúdos de terceiros.
À época, a resposta da Google foi divertidíssima: “If a newspaper does not want to be part of Google News, we remove their content from our index—all the newspaper has to do is ask. There is no need for legal action and all the associated costs”.
Esta lógica, uma visão digital do bem contra a estupidez analógica dos jornais, atravessa a defesa da empresa e das suas News. Ela é partilhada em detalhe num bom artigo de Paulo Querido que merece alguma análise.
O Paulo escreve que “os media não têm nada para dar à Google em troca de uma percentagem do que supõem ser os lucros por indexar os conteúdos deles”. Bom, quer dizer, têm... as notícias, os tais conteúdos.
Ou que a Google “não produz, emite, copia, ou republica um único todo coerente”. Claro que emite (está na Web), copia (nem que seja o título) e agrega publicamente e de forma coerente. É ver o Google News.
Ou ainda que “O valor que o motor de pesquisa Google gera é fabricado a partir da sua própria actividade — encontrar o mais relevante resultado para cada pesquisa — e não depende um milímetro, ou fracção, do valor dos conteúdos de que são proprietários legítimos e reconhecidos os ocupantes do comboio ‘Declaração de Hamburgo’”. Não. Neste caso das notícias, o Google não encontra o mais relevante mas procura quem deu a notícia primeiro e é esse que é atirado para a linha da frente. E mesmo que não seja o caso, como é que o valor da Google “não depende um milímetro” dos conteúdos no News se estes conteúdos não são seus. Incongruência.
Também por isso, não é verdade que “o Google é cego” e muito menos “neutral”. A cegueira de um algoritmo será sempre difícil de determinar, mas nem preciso de o afirmar. Diz o Paulo: a “Google não se alcandorou à tarefa de tornar os conteúdos existentes mais interessantes e promover novos conteúdos [...] mas atribuiu-se a si próprio a incumbência de indexar o maior número possível deles e aplicar-lhes valor através de um algoritmo. Este algoritmo não mede o valor intrínseco de uma página ou conteúdo (paradigma old media) mas sim o seu valor exógeno — isto é, como é percepcionado e “avaliado” pelos pares (peering) do meio que o enquadra (paradigma new media)”.
Finalmente, também não é verdade que “o Google não quer saber — não quer mesmo, é um conceito alienígena para ele — o que pensam os produtores de conteúdos do que produzem, e uns dos outros”. Tanto quer saber que assina acordos com alguns deles como a Lusa, agência que também integra o grupo de assinantes da declaração de Hamburgo...
Apesar do Google ter dado a cara perante a visão digital para a Europa dos media, é bom ter em conta que a empresa pode ser ultrapassada no campo das buscas em tempo real.
Ou que ela pode ser secundária nas pesquisas nos equipamentos móveis e os conteúdos nem estarem principalmente no Google News. “People in the developing world can get as much utility out of Twitter as we do because they can use it on their cell phones”.
Para que serve o Android senão para fincar um pé nesse negócio?