Culturas, economia e política, tecnologia e impactos sociais, media, contaminantes sociais, coisas estranhas... Cultures, economy and politics, technology and social impacts, media, social contamination, weird stuff...
18 agosto 2011
Serviço público de televisão, em 2002
No "RELATÓRIO DO GRUPO DE TRABALHO SOBRE O SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO" (Setembro de 2002), o Grupo de Trabalho concluiu o seguinte:
1. O Serviço Público de Televisão [SPT] é uma necessidade que a comunidade reconhece e que o Estado deve assegurar.
2. A legitimidade do SPT decorre da qualidade do conteúdo das suas emissões, da sua independência efectiva face aos vários poderes e da gestão criteriosa dos recursos financeiros suficientes colocados pelo Estado à sua disposição.
3. O SPT deve obedecer aos seguintes princípios fundamentais: universalidade, coesão, referência e gratuitidade.
4. Sem prejuízo do disposto no n.º 6, o SPT deve ser difundido num canal de cobertura nacional em sinal aberto e de carácter generalista.
5. O canal público referido no número anterior deve assegurar que a sua programação seja uma referência de qualidade e diversidade, garantindo o direito à informação e o pluralismo e fomentando a divulgação da criação artística, científica e cultural nacional.
6. O Grupo de Trabalho entende ainda que a segunda frequência hertziana disponível não deve ser alienada, dado que é um bem público a salvaguardar, pelo menos até à implementação da Televisão Digital Terrestre. O Grupo de Trabalho entende que a segunda frequência pública disponível não deverá ser um canal generalista, mas antes um serviço alternativo aberto à sociedade civil que possa reforçar, pela diferença, os princípios de universalidade, coesão e proximidade definidos neste documento, na sequência das ideias incluídas no capítulo “Programação Obrigatória e Alternativa”.
7. O SPT deve compreender uma emissão internacional, destinada sobretudo às comunidades portuguesas ou de língua portuguesa, a qual, tanto em matéria de informação como de programação não-informativa, deve reflectir o melhor do país e da sua televisão. Essa emissão deve realizar-se com total independência informativa e editorial relativamente aos países receptores ou de acolhimento.
8. O Grupo de Trabalho entende que o Estado deve assegurar um financiamento adequado aos objectivos e propósitos do SPT e que a entrega desse financiamento deve ser feita de forma clara, transparente e estável para evitar situações de incumprimento na entrega das verbas previstas. Mais considera que o SPT poderá utilizar a venda de espaço publicitário como forma de financiamento complementar. Esta venda de espaço publicitário obedecerá, rigorosamente, aos limites e critérios da lei portuguesa e dos diferentes instrumentos comunitários aplicáveis e deve reverter, maioritariamente, para investimento em produção nacional.
9. Em toda a actividade, e em qualquer meio de difusão que entenda utilizar, o SPT deverá ser uma referência, quer em termos de qualidade de informação e programação, quer em termos de presença e comportamento no mercado, quer em termos de contratualização com os produtores independentes de televisão, de respeito pelos direitos de Autor e conexos e de defesa da língua e cultura portuguesas.
10. O Grupo de Trabalho recomenda vivamente que seja criado, com a máxima urgência, um verdadeiro órgão regulador do audiovisual, dotado de amplos poderes fiscalizadores e sancionatórios. Igualmente recomenda que seja criada a Provedoria do SPT, com competência para avaliar queixas e interpelações e capacidade para recomendar medidas aos órgãos próprios da entidade emissora.
11. O Grupo de Trabalho recomenda ainda que o arquivo histórico criado pela RTP seja salvaguardado como bem público e que seja ponderada a sua transferência para o ANIM (Arquivo Nacional das Imagens em Movimento). Entende o Grupo de Trabalho que é desejável a agregação a este arquivo das imagens dos operadores privados, para o que deverá ser produzida legislação pertinente.
12. O SPT poderá e deverá utilizar, em cada momento, os diversos meios tecnológicos ao seu alcance.
[...]
RECOMENDAÇÕES
Além dos critérios fundamentais de programação, indicados anteriormente, o Grupo de Trabalho apresenta a seguir recomendações na área dos conteúdos que considera como linhas de rumo a seguir na prossecução desses critérios.
1. O SPT deve respeitar e fazer respeitar integralmente os direitos de autor e conexos garantidos nos termos da lei.
2. É recomendável que o SPT apresente, diariamente, um boletim informativo com informação local ou regional.
3. É recomendável que o SPT inclua um boletim de informação para crianças e jovens.
4. É recomendável que o SPT apresente, regularmente, programas essencialmente baseados em entrevistas.
5. É recomendável que o SPT apresente, regularmente, programas de debate sobre temas da actualidade ou de interesse geral.
6. É recomendável que o SPT apresente magazines semanais ou quinzenais dedicados a áreas específicas da informação, como as questões internacionais, as artes, a ciência e tecnologia, o ambiente e a cultura popular, podendo tais magazines revestir a forma de documentário.
7. É recomendável a criação de um espaço regular de programação, pelo menos mensal, no qual o Provedor do SPT analise casos que lhe tenham sido submetidos e informe sobre a sua posição.
8. É recomendável que o SPT apresente, pelo menos semanalmente, um documentário português, bem como integre na sua programação regular documentários estrangeiros de referência.
9. É igualmente recomendável o desenvolvimento de uma linha de programas biográficos e históricos.
10. Recomenda-se que a ficção de mero entretenimento se submeta aos princípios e obrigações do SPT.
11. É recomendável que o Serviço Público não apresente telenovelas como estratégia de programação e tendo como objectivo principal a fixação de audiências, só o devendo fazer se tal se justificar pela sua particular qualidade e curta duração diária.
12. É recomendável que o SPT promova a criação e produção de teatro adaptado ao meio televisivo, quer de peças do reportório consagrado, quer através do fomento de escrita de teatro para a televisão. É ainda recomendável que procure transpor para a televisão espectáculos teatrais de referência com êxitos crítico e público.
13. É recomendável que a programação geral inclua com critério programas de entretenimento, como concursos de conhecimentos gerais ou específicos, talk-shows e programas generalistas destinados a crianças ou jovens.
14. Recomenda-se que a divulgação da música popular no SPT tenha em consideração três critérios: a qualidade, a novidade e o top de vendas. Caberá ao SPT dedicar atenção à música popular portuguesa considerada de qualidade, geralmente menos coberta pelos outros canais generalistas, bem como a experiências inovadoras nesta área.
15. É recomendável que o SPT envide esforços para gravar e efectivamente apresentar recitais, concertos, ópera, bailado e outros espectáculos, nacionais ou apresentados em palcos nacionais, dessa forma enriquecendo a sua programação e o seu arquivo histórico.
16. É recomendável que o SPT procure desenvolver uma produção constante de telefilmes nacionais, em produção própria ou co-produção com instituições nacionais ou estrangeiras.
17. É recomendável que o SPT fomente obras de novos realizadores e arrisque na descoberta, nomeadamente através de curtas metragens especificamente destinadas a televisão.
18. É recomendável que o SPT procure apresentar provas internacionais relevantes em que participem selecções e desportistas portugueses se outros canais em aberto não o garantirem.
19. É recomendável que o SPT apresente um programa de informação e/ou magazine desportivo, com representação das principais modalidades.
20. É recomendável que a política de aquisições de produção internacional se reja pelos princípios orientadores do Serviço Público, proporcionando uma alternativa aos canais comerciais e garantindo aos espectadores portugueses a possibilidade de verem as melhores novas séries e programas internacionais de referência e também filmes de longa metragem, de forma a elaborarem-se, com critério, ciclos e noites de cinema.
21. Na concretização do princípio da proximidade, é recomendável que a televisão de Serviço Público do Estado desenvolva a informação relativa às regiões desfavorecidas, do interior ou do litoral, bem como às regiões autónomas.
22. Recomenda-se que o SPT inclua obras experimentais e de vanguarda.
23. Recomenda-se que o SPT tenha uma importante componente educativa e de ligação às Universidades e outras instituições de educação.
24. É recomendável que o SPT preste uma atenção continuada ao material do arquivo do SPT, produzindo a partir dele espaços de emissão com imagens devidamente tratadas e reposição dos melhores programas da RTP. Com o previsto aumento a prazo do tempo disponível na televisão digital terrestre em aberto, a utilização do arquivo do SPT poderá ter um espaço próprio, pelo que é recomendável que, desde já, se inicie o processo de selecção de programas e de tratamento para emissão do material em arquivo.
25. Recomenda-se vivamente a preparação de um programa da máxima qualidade pedagógica e técnica destinado ao ensino da língua portuguesa.