17 junho 2005

DESAFIO

Tenho assistido quase calado (mas não mudo) à emergência do jornalismo corporativo, baseado na Net e na cooperação por este meio, elogiado por muitos blogues em Portugal sem que os mesmos façam algo por mudar as coisas nos medias actuais ou tentem criar alternativas.
Os blogues querem ser força de contrapoder e consideram que o podem ser. Ainda bem. O contraditório na nossa sociedade tem sido pequeno ou nulo e, por isso, quantas mais vozes públicas, melhor.
Mas acho admirável a quantidade praticamente inexistente desse contrapoder (não, o Abrupto não conta, nem o Causa Nossa, nem semelhantes, porque repetem ou complexificam ou desmistificam o que escrevem nos media tradicionais. Estão desqualificados). E os outros?
Acho igualmente admirável - mas não de admirar - que as supostas vozes contraditórias e contrafactuais dos blogues não se juntem e prefiram ter blogues pessoais. São o retrato da nossa sociedade: comentam no café mas não se organizam na freguesia; discordam em casa mas deixam a câmara municipal ser tomada por forças políticas de que discordam. Porque lhes facilita a crítica fácil, claro.
Por isso, já não fico fascinado quando leio José Francisco Viegas (JFV) sobre Ah, gajas do meu país e concordo com o Manuel Pinto sobre a potencial nota de "disclosure" sobre a Rititi não efectuada por JFV.
Tal como concordo que também os "bloggers" deveriam disponibilizar esse tipo de nota sobre as suas ligações comerciais, familiares, políticas ou de quaisquer interesses nos seus textos (afinal de contas, é só JFV que ganha por levar Rititi ao seu programa?... Não há ligações de amizade e comerciais noutros blogues?)
Eis quando senão surge o AgoraVox - le journal citoyen - Des Mass Media aux Media des Masses. Eh pá! Isto está feito como exemplo para o portuga que gosta de partilhar e construir e opinar sobre a sua sociedade, em conjunto mas não só.
O modelo de recolha, tratamento e crítica num blogue é simples, como se vê neste Blog Process.
Mas quantos estão dispostos a alinhar na escrita colectiva sob critérios jornalísticos (a opinião não conta)?
Quem quer lançar um projecto não-lucrativo de jornalismo?
Vá lá, está aberto o processo, claro e sem nuances: quem está disposto a participar num projecto de jornalismo participativo, baseado na Net, sem pruridos ideológicos, atento aos "innuendos" que devem ser discutidos entre os interessados? Está aberta a porta: quem quer entrar?
Não acredito que os autores dos blogues queiram alinhar neste tipo de projecto, sejam de direita ou de esquerda, do norte ou do sul. Porque cada um defende a sua terra, o seu blogue, o seu território. Não é mau mas não é colectivo e não é público. E não venham depois defender o poder dos blogues.