05 julho 2014

Do "exercício do jornalismo sem título profissional" ao "suicídio"

 

Jornais que publiquem textos assinados por estagiários arriscam multa, "multas que podem ascender a muitos milhares de euros". (...)

Director da licenciatura de Ciências da Comunicação da Faculdade de Letras do Porto, Paulo Frias: “O estágio serve para aproximar os estudantes da prática profissional” e, se o seu papel fica praticamente reduzido ao de meros observadores do trabalho alheio, este período que completa a formação académica “perde o sentido”. “Não consigo entender a posição da Comissão da Carteira Profissional”, diz. 

Lei que impede estagiários de assinar artigos “visa impedir pessoas de trabalhar de graça”:
“Sei de empresas de comunicação social que logo a seguir a terem feito despedimentos ligaram às universidades para lhes pedirem estagiários curriculares”, descreve Daniel Ricardo, que é jornalista da Visão e para quem nesta polémica está ainda em causa a responsabilidade social de quem trabalha na profissão, com tudo o que isso implica ao nível do sigilo profissional, por exemplo. “Compreendo que na crise que vivemos a tendência seja para gastar o mínimo. Mas não pode ser à custa do sacrifício dos estagiários curriculares”, observa. “Se uma profissão não for remunerada é um hobby”.

O jornalismo que temos e o jornalismo que queremos: É necessário clarificar o estatuto de estagiário, reconhecendo as suas limitações e construindo um raio de acção que permita começar uma profissão, ao mesmo tempo que se fiscaliza a acção dos órgãos para que estes não sustentem a sua actividade neste tipo de trabalhos. Se existe o compromisso social e a preocupação da formação profissional, porque não arranjar um modelo salarial adaptado ao estatuto de estagiário? Ou será que assim se expirava o interesse dos órgãos na formação profissional? É necessário que as universidades sejam mais activas na defesa e no acompanhamento dos seus alunos, não só na sua formação académica mas também na sua integração profissional. Já percebi a razão pela qual o jornalismo é uma das áreas com mais propensão ao suicídio: a fim de manter a sua condição está disposto a matar a profissão.

Por fim, a ver "decisões proferidas no âmbito dos procedimentos disciplinares instaurados por esta CCPJ" (2013), muitas delas sobre "exercício do jornalismo sem título profissional" ou "manutenção ao seu serviço de jornalista sem título profissional"...