17 fevereiro 2004

ECOPOL

Mais dinheiro para a "estratégia de Lisboa", menos para as auto-estradas: Portugal vai ter de reorientar os fundos estruturais comunitários de apoio ao seu desenvolvimento para o reforço da qualificação dos recursos humanos, investigação científica e inovação, de modo a diminuir o peso das estradas e auto-estradas nos financiamentos da União Europeia [...]
"O problema de Portugal não é nenhuma má aplicação dos fundos estruturais", explica um responsável europeu. "O problema de Portugal é que os fundos foram provavelmente concentrados de forma excessiva na região de Lisboa, e em estradas e auto-estradas", justificou. A partir de agora, defendeu a mesma fonte, "vai ser preciso diversificar os investimentos e orientá-los mais para a investigação científica, a inovação , o apoio às pequenas e médias empresas, o ambiente ou o ensino", ou seja, precisamente os objectivos da "estratégia de Lisboa".
Ainda Manuel Castells: Em menos de uma hora, a lição de Castells - sobre os diferentes modelos de desenvolvimento da "sociedade da informação" - abriu mais pistas para entendermos os nossos problemas e encontrarmos caminhos de resolução do que milhares de páginas de estudos e relatórios com que sistematicamente somos brindados pelo mais recente "grupo de estudo" criado pelo governo para diagnosticar, pela enésima vez, a mesma realidade.
Mesmo que as generalizações sejam sempre de evitar, sou quase tentada a dizer que foi mais útil aos jovens que assistiram à sua conferência da passada sexta-feira do que 100 horas de aulas em muitas universidades portuguesas. Quanto mais não fosse pela extrema simplicidade com que abordou os problemas mais complexos do nosso tempo, num contraste flagrante com as intervenções de vários académicos portugueses que falaram no período de debate. [...]
Preferimos sempre a facilidade. É mais fácil fazer discursos contra a Espanha do que aproveitar a sua vizinhança e o seu mercado. É mais fácil manter as universidades fechadas ao exterior do que competir nas redes internacionais e, já agora, na própria sociedade. É mais fácil fazer discursos "do contra" do que negociar pactos de regime. É mais fácil o imediato do que o longo prazo. É mais fácil (e dá mais votos) construir estádios de futebol do que aumentar a percentagem do PIB na I&D. É mais fácil fazer diagnósticos do que agir.