04 setembro 2006

VITAMEDIAS

Epitáfio: sobre a morte de O Independente está quase tudo dito, seja pela sua influência no lado cultural como na aposta política.
Da vivência na lógica interventiva do semanário, lembro-me de um actual director de uma revista escarrapachado numa cadeira a questionar um ministro sem ter qualquer ideia do assunto para o qual tinha sido chamado. Pormenores.
Mas também esperei por algumas coisas a realçar que as não vi ditas. Por exemplo, o trabalho único de O Independente sobre os eventos marcantes de Tiananmen, muito longe de qualquer outro jornal. Jornalismo de causas de esquerda? Talvez mas porquê num jornal dito de interesse na gestão da direita? Pela redacção de esquerda? Tss...
Outra que vi relativizada: a importância na desmistificação da economia por Leonardo Ferraz de Carvalho. Foi importante por produzir textos sobre economia que eram explícitos para todos e interessantes de ler, tal como faz o dono do texto acima linkado.
Pacheco Pereira questiona "Agora que um jornal morreu, continuo perplexo com a vida de outros. Como é que o Semanário sobrevive? Não lhe desejo nada de mal, mas é para mim um mistério a sua continuidade sem jornalistas, sem leitores e sem anunciantes."
No Semanário, uma resposta sobre o falecido concorrente: "É verdade que, como jornal político que não alimentava nenhum projecto de conquista de poder, "O Independente" não interessava aos ricos. Aliás, os ricos não fazem política: no dia em que a fizessem, deixavam de ser ricos. Os ricos estão sempre do lado do poder, do lado do governo que está, seja ele quem for. Porque, senão, perdem as suas fortunas, as suas empresas, os seus negócios. Os ricos são pragmáticos.
Dito isto, resulta que a política é para os pobres: querem saber quem vai ganhar as próximas eleições? Perguntem aos pobres. Os ricos serão sempre ignorantes e nem querem saber... Só que sem projecto de poder (mesmo que seja pessoal como o de Marcelo) não há dinheiro. É neste contexto que a imprensa se transforma no espaço nobre da própria Democracia."
O texto continua numa lógica de disparar à toa e sem factos baseada numa opinião que só o ajuda a ir em direcção ao abismo Independente: "o "Sol" resume-se à ambição de um homem que quer ser Presidente da República. À ambição de Marcelo Rebelo de Sousa, que se lança numa aventura editorial - contra Francisco Pinto Balsemão (a mostrar também algum desnorte, ao avançar já com a remodelação gráfica do Expresso) - acreditando que um dia será presidente da República, acreditando no seu projecto de poder pessoal, passando a frente de Durão Barroso ou de outros putativos candidatos do centro-direita.
Conhecem-se algumas recusas de colonistas para escreverem no novo jornal de António José Saraiva. Se o novo jornal de sábado ficar reduzido a Saraiva e a Marcelo, saberemos, finalmente, que o marcelismo ficou reduzido a duas pessoas, o que é pouco para alguém que quer ser Presidente da República.
Marcelo anda há muito tempo nisto e, dificilmente, pode repetir na televisão o que escrever no jornal. Não terá novidade e portanto editorialmente pode estar gasto."