08 março 2007

VITAMEDIAS

Depois da festança dos 50 anos (gostei da contenção da RTPN que retransmitiu a Liga dos Últimos e da RTP Memória que anda a repassar o Aventuras do Conhecimento...), tempo para lembrar coisas mais recentes:
RTP: 50 anos de quê?
Ontem, 4 de Setembro de 2006, assinalaram-se 50 anos sobre a primeira emissão experimental da RTP. O texto que se segue foi publicado no dossier do Diário de Notícias sobre o assunto, com o título 'Alternativa ou não?'.
Para os que, como eu, nasceram em meados da década de 50, as memórias fundadoras da RTP talvez não possam deixar de arrastar alguma nostalgia. Dar conta das diferenças desse tempo, afinal tão próximo, é um problema que não é fácil resolver junto dos que descobriram o mundo na idade da televisão global e da Internet... Resta saber se as melhores vias para lidar com tal problema são o pitoresco (veja-se o patético “A Canção da Minha Vida”) e a banalização paternalista da história colectiva (todos os dias reforçada na RTP Memória). Infelizmente, a discussão de tais questões esbarra quase sempre com os protestos que nos dão conta da dedicação e da honestidade dos profissionais que, há meio século, fazem a RTP. Como se fosse isso que está em causa... O essencial resume-se numa pergunta: está ou não está a RTP disponível para se repensar como alternativa aos canais privados? É uma grande questão cultural, um salutar desafio económico e um incontornável drama político.
Postado por João Lopes em Terça-feira, Setembro 05, 2006

RTP, ano 50: Com Soares e o Bloco Central, dispositivo instrumental e aparelho institucional deram-se as mãos sempre que solicitado. Disso mesmo, Soares viria a fazer o seu próprio “mea culpa”. Seguiam-se as duas legislaturas de Cavaco e a angústia do monopólio de Estado perante o “penalty” da liberalização da televisão. Se se imaginava que doravante a RTP se distinguiria dos projectos comerciais pela qualidade, o facto é que, de início, mais depressa se encontrava “serviço público” nas privadas do que na pública. Daí para cá muito mudou, mas permanece a angústia, tão bem enunciada por Paulo Branco: “Serviço Público? A que horas passa?”
RTP: uma vida difícil: De Cavaco para cá, na era da concorrência com as TV’s privadas, a manipulação dá lugar a formas não menos problemáticas de agendamento, assentes no “sound byte” da pequena política, nos acidentes e nas catástrofes. Através destas práticas burocráticas, através do ‘jornalismo sentado’ e da via aberta aos porta-vozes oficiais e ao mundo do futebol, foi-se excluindo aquilo que verdadeiramente ‘acontece’ no país, substituindo o valor-notícia da experiência social e da cidadania, pela informação-espectáculo. Instituiu-se assim um modelo mais determinado pelas ’audiências’ do que pela ética de antena.