As escolas portuguesas são, cada dia que passa, monumentais espaços de domesticação. Domesticação dos alunos, dos professores e dos seus outros corpos profissionais, por via de uma rarefação cada vez mais perigosa da liberdade pedagógica, da autonomia organizacional e da privacidade pessoal, através, por exemplo, de sistemas de videovigilância que as escolas não controlam, nem sabem quem controla, de sistemas de monitorização eletrónica e, até, policial, de mecanismos coercitivos de medição, ao minuto, do tempo de trabalho dos professores. Os alunos, em particular, são cada vez mais excluídos de qualquer participação cívica no contexto das suas escolas, remetidos à posição de objetos de configuração externa. Não é de estranhar, então, que a indisciplina esteja a aumentar exponencialmente e os mais jovens a rejeitar qualquer ideia de ética ou compromisso cívico com a sua escola ou com o seu país. A sujeição é sempre o principal gatilho da violência e da alienação.
Consequentemente, a escola pública portuguesa é também uma máquina monumental de exclusão. Dos mais pobres, primeiro, incapazes de fazer valer os seus interesses particulares, nomeadamente de acesso às novas tecnologias e às novas redes comunicacionais, agora excluídas do serviço público; em segundo lugar de todos aqueles que procuravam, e achavam que poderiam esperar, na escola um espaço de liberdade, vinculação e aprendizagem do mundo nas suas complexidades e, em terceiro lugar e surpreendentemente, a escola está a transformar-se em espaço de exclusão dos próprios professores, cada dia que passa remetidos a e transformados em meros tecnólogos, em operários desqualificados de um mando central em que cada aluno é uma coisa e cada professor uma ferramenta. Sim, o inimaginável está aí.
De "A Internet e a liberdade nas escolas portuguesas": A escola pública portuguesa é também uma máquina monumental de exclusão.